terça-feira, abril 13, 2021

CINCO DOCUMENTÁRIOS



Na falta de coragem e inspiração para uma postagem mais aprofundada, vamos de textos rápidos sobre cinco documentários vistos nos últimos quatro meses, sendo três deles indicados ao Oscar 2021.

TIME

Essa linha de documentários recentes que têm conseguido registros de 20 anos ou mais tem aumentado e a tendência é que agora, com a maior facilidade de registrar eventos com celulares, filmes como este serão ainda mais presentes. A diretora de TIME (2020), Garrett Bradley, tem experiência tanto com ficção quanto com documentário e isso ajudar a encontrar os momentos certos para a narrativa, tanto na longa expectativa da protagonista da soltura de seu marido da prisão, quanto na necessidade de também dar voz a um dos filhos, o que ajuda a enriquecer o trabalho. Ainda assim, vejo o filme quase como uma obra inacabada, tal a sensação que fica no final. Como se a conclusão quisesse ser mais emocionante do que realmente é. Talvez o piano na trilha atrapalhe mais do que ajude. Mas é isso: documentários lidam também com o acaso.

AGENTE DUPLO (El Agente Topo)

É muito provavelmente o mais sofisticado e bonito candidato à categoria de melhor documentário neste Oscar. E em muitos momentos esquecemos que é um documentário. A estrutura de ficção é muito forte e também é muito fácil se pegar comovido com o velhinho protagonista e com os vários idosos lá da casa de repouso. Além de ser muito divertido. Fácil também se pegar gargalhando em alguns momentos. Na trama de AGENTE DUPLO (2020), de Maite Alberdi, um detetive particular procura pessoas de 80 a 90 anos para um serviço a definir. Depois de ser escolhido, a missão de Sergio Chamy é investigar algo na casa de repouso sem que ele seja percebido. Trabalho de espião mesmo. O registro humanista do filme é comovente.

COLLECTIVE (Colectiv)

Por mais difícil que seja a situação das vítimas de um incêndio em uma casa de shows e a posterior morte dos sobreviventes levados para um hospital especializado em queimaduras, não deixa de dar uma ponta de inveja em ver os atos da imprensa para pressionar os hospitais a adotarem medidas eficientes, já que as pessoas estavam morrendo de infecção hospitalar. Inveja, pois aqui no Brasil, tivemos foi falta de oxigênio durante a pandemia, além, claro de um serviço do governo federal que só beneficia o vírus. Quanto ao filme romeno, COLLECTIVE (2019), de Alexander Nanau, de fato tem sua força. O que mais me deixou intrigado foi o fato de o cineasta e os câmeras estarem presentes tanto nas reuniões dos jornais quanto nas do novo ministro da saúde, que em determinado momento chega a ser o protagonista da história. No mais, confesso que achei o filme um pouco cansativo. Talvez por ter que usar muito jargões técnicos para falar da crise sanitária nos hospitais de Bucareste e de todo o país.

SEARCHING FOR DEBRA WINGER

Foi tão bom ouvir todas essas mulheres maravilhosas falando sobre a situação da mulher, especialmente das atrizes, que têm que equilibrar suas vidas profissionais com o casamento e os filhos. Ao ouvir, por exemplo, Meg Ryan, ou a própria Rosanna, falarem sobre a dificuldade de ter que se dividir ou às vezes escolher entre os filhos ou os filmes, bate um bocado de angústia. Afinal, isso não é algo pelo que os homens costumam passar. Temos o caso de Jane Fonda, que sempre se dedicou muito mais à vida profissional e depois foi deixando quando se casou com um sujeito que disse para ela parar. Rosanna Arquette começa seu filme fazendo uma citação trágica de OS SAPATINHOS VERMELHOS, de Powell e Pressburger, sobre uma jovem bailarina que é obrigada a escolher entre sua paixão pelo balé e o homem que ama. Por que não ter as duas coisas? As entrevistas com as várias atrizes ocorrem em um misto de descontração e um bocado de rancor com a sociedade machista. Nos dias de hoje percebemos de cara a falta de mais atrizes negras no elenco de entrevistadas (só Whoopi Goldberg e Alfre Woodard comparecem). Mas há tantas discussões que vêm à tona, tão ricas, que eu lamento que não tenha sido um filme com mais visibilidade na época de seu lançamento. Quanto a Debra Winger, valeu o suspense de esperar a atriz que desistiu de ser atriz para dar sua entrevista. De todo modo, ela voltaria a fazer filmes e televisão, ainda que nunca mais voltasse a ser a estrela que foi nos anos 80/90. SEARCHING FOR DEBRA WINGER (2002) é um filme pequeno sobre um tema importante e feito com muito sentimento. O filme voltou a ser pauta com a matéria que saiu no El País chamada "Debra Winger, a estrela de cinema que preferiu desaparecer antes de ficar invisível".

O CAPITAL NO SÉCULO XXI (Capital in the Twenty-First Century)

Uma espécie de resumão da história do capital, do século XIX até os dias atuais, em que se propõe uma maneira de ir além do capitalismo como se conhece, de modo que haja uma diminuição da desigualdade social. O autor do livro, Thomas Piketty, comparece como um dos entrevistados, e o filme é muito empolgante ao tratar do assunto, com utilização de cenas de filmes, inclusive, para ajudar a contextualizar o momento histórico. O CAPITAL NO SÉCULO XXI (2019), de Justin Pemberton, é desses filmes que nos deixam pensando no assunto e que chamam a atenção para o livro, que deve funcionar melhor para a reflexão. Por mais que seja um documentário que segue uma linha tradicional na forma, me pareceu muito bom de ver e seu estilo didático é bem-vindo para quem não é um economista ou estudioso aprofundado do assunto.

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