sábado, julho 20, 2019

O CÓDIGO PENAL (The Criminal Code)

Saudade dos anos 2005-2008, que foi o período em que eu mais vi filmes do Howard Hawks, um dos cineastas mais queridos da casa. No primeiro ano, eu comecei a pegar pelo acervo da Distrivídeo, que tinha uma boa quantidade de filmes do diretor. Depois, tive a chance de conseguir por vias alternativas, o que foi uma maravilha. No entanto, alguns filmes até então continuavam inéditos para mim, por falta de legenda, principalmente. Três deles surgiram recentemente, devidamente legendados na rede: A PATRULHA DA MADRUGADA (1930), já resenhado neste espaço; FAIXA VERMELHA 7000 (1965), ainda a ser visto; e este O CÓDIGO PENAL (1930), segundo filme falado do mestre.

Trata-se do filme de prisão de Hawks. Os elementos tão presentes em seus filmes não se manifestam de maneira tão forte aqui, mas há o senso de camaradagem, o código ético que os presos têm, como, por exemplo, não se deve delatar o colega para os guardas ou para o diretor da penitenciária. Há também uma cena que é a cara do Hawks, que é quando o protagonista, Robert Graham, vivido por Phillips Holmes, recebe a notícia de que sua irmã falecera, enquanto está jogando damas com os colegas de cela.

Assim como acontece nos demais filmes do cineasta, a reação para esse tipo de situação triste é engolir o choro. E é impressionante como isso aumenta o potencial dramático. Isso seria muito melhor explorado em O PARAÍSO INFERNAL (1939), o grande filme de aviões do diretor. Em O CÓDIGO PENAL, o colega de cela o incentiva a continuar jogando.

Na trama, Graham é um rapaz que mata uma pessoa acidentalmente, mas que, por ter um advogado fraco, acaba sendo alvo fácil do procurador público Mark Brady, vivido com brilhantismo por Walter Huston. Lembremos que o bom ator faria um dos papéis mais memoráveis da velha Hollywood em O TESOURO DE SIERRA MADRE, 18 anos depois, dirigido pelo filho, John Huston.

Aqui ele investe seu personagem de uma nobreza que nos faz esquecer um pouco seu jeito durão e muitas vezes impiedoso com várias das pessoas que passaram por ele e foram parar na cadeia. A roda gira quando, anos depois, Brady é nomeado diretor da penitenciária e reencontra o jovem Graham, em frangalhos, precisando de ajuda. Ele o transfere para um lugar muito melhor de trabalhar, junto a ele, ajudando em diversas coisas da família, e tendo o prazer de conhecer a filha de Brady, a bela Mary, vivida por Constance Cummings.

E o que vemos então é uma habilidade incrível de Hawks em conseguir juntar tudo isso: filme de prisão com suspense, drama do presidiário e uma história de amor e conseguir ser bem-sucedido em tudo. O que dizer dos vinte minutos finais, tão cheios de apreensão? Curiosamente não é dos filmes mais queridos do diretor e nem é creditado a ele, conforme informação no IMDB. Se não é tão bom quanto o anterior, A PATRULHA DA MADRUGADA, serve de ótima escada para uma de suas obras mais famosas, SCARFACE - A VERGONHA DE UMA NAÇÃO (1932).

+ TRÊS FILMES

OS MENINOS (¿Quién Puede Matar a un Niño?)

Foi preciso morrer Serrador para que eu finalmente visse este clássico do horror europeu. O que aconteceria se as crianças passassem a matar os adultos? Esse ponto de partida aterrorizante é o coração da trama deste filme, que estabelece uma ligação com os inúmeros genocídios ocorridos em diversas tragédias da humanidade, em que são as crianças as principais vítimas. Como uma espécie de vingança da parte delas. Destaque também para a bela fotografia solar de José Luis Alcaine. Direção: Narciso Ibáñez Serrador. Ano: 1976.

CYRANO (Cyrano de Bergerac)

Quando a gente não respeita ou simpatiza com o protagonista, fica muito difícil torcer por ele. Na verdade, além de ter ficado muito velho, a própria peça original já nasceu velha, com um romantismo que já havia acabado naquele final do século XIX. O personagem é tão chato que demora demais até para morrer, naquele seu monólogo final. Depardieu, gigante que é, podia ter deixado passar esse filme. Direção: Jean-Paul Rappeneau. Ano: 1990.

O PORTEIRO DA NOITE (Il Portiere di Notte / The Night Porter)

Um dos poderes das grandes obras é desafiar convenções e subverter regras, como trazer romantismo para uma história de sentimentos mistos. O filme conta o grande amor entre uma judia que passou pelo campo de concentração e seu torturador. Liliana Cavani trafega por caminhos que a gente não imaginaria trilhar a partir do começo, que mais parece uma história de vingança. A trama no presente é enriquecida pelas lembranças do tempo da guerra. Interessante ver Chatlotte Rampling tão jovem, eu que já a conheci idosa. Ela é linda, mas a imagem de seu rosto envelhecido não parava de vir à minha mente enquanto olhava para ela. Ano: 1974.

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