quinta-feira, maio 09, 2019

COMANDO NEGRO (Dark Command)

Que saudade do tempo em que eu conseguia fazer as chamadas peregrinações pelas obras de vários cineastas. Quem acompanhou este blog em seu auge deve lembrar do quanto eu me entusiasmei em ler e falar de obras de feras como Hitchcock, Ford, Hawks, Ray, Cukor, Truffaut, Rohmer. De preferência, de posse de um livro que abordasse suas obras, sejam livros de entrevistas ou livros de ensaios. Daí o livro Afinal, Quem Faz os Filmes, de Peter Bogdanovich, ser tão importante pra mim. Sabiam que até hoje não terminei de ler o livro, só porque quero ver os filmes dos diretores que são entrevistados? Um deles é Raoul Walsh, o sujeito que roubou o cadáver de um amigo apenas para assustar o outro. Pois é, em Hollywood tinha dessas coisas.

Conhecido como o cineasta aventureiro, Walsh poderia ser tão adorado quanto Ford, até por ter dirigido mais filmes do que ele, e também ter tantos clássicos de variados gêneros em sua filmografia. Vários de seus filmes da fase silenciosa estão infelizmente perdidos, mas como são 139 títulos (de acordo com o IMDB), incluindo curtas e longas, creio que nunca conseguirei terminar de ver todos os filmes dele, a não ser que me dedicasse exclusivamente a ele. Sem falar que alguns desses trabalhos muito provavelmente não estão disponíveis tão facilmente. Digo, aqueles que não são dados como perdidos.

Mas o importante é que um filme como COMANDO NEGRO (1940) está à disposição. Engraçado a minha história com essa obra. Tenho interesse em vê-lo desde que vi sendo destaque de uma sessão de lançamentos em VHS da revista SET. Na época, a crítica o colocou ao lado de JOHNNY GUITAR, de Nicholas Ray. E são filmes bem diferentes, na verdade, embora ambos sejam westerns.

Walsh dirigiu COMANDO NEGRO logo após o sucesso de público e crítica do drama criminal HERÓIS ESQUECIDOS (1939), uma belezura que marcou a safra rica dos filmes de gângster de Hollywood. E COMANDO NEGRO marca a reunião de Walsh com John Wayne, com quem trabalhou em um dos títulos mais famosos da fase inicial da carreira do caubói, A GRANDE JORNADA (1930). Aliás, foi Walsh quem praticamente criou John Wayne, que antes desse filme de 1930 ainda não tinha adotado o seu nome - ainda se chamava Marion Morrison, um nome feminino, mas seu nome de batismo.

Infelizmente a entrevista contida no livro de Bogdanovich não chega a iniciar a fase falada de Walsh. COMANDO NEGRO se passa em um momento anterior à Guerra Civil Americana, quando o personagem de Wayne, um caubói iletrado, chega a uma cidadezinha com seu amigo médico picareta, para ganhar algum dinheiro: Wayne bateria nos homens, que por sua vez, iriam arrancar o dente com o amigo dele. A trapaça deixaria de fazer parte da vida do protagonista no momento em que ele se tornaria o xerife eleito da cidade, vencendo o professor (Walter Pidgeon) que posteriormente se mostraria o verdadeiro vilão, ao começar a roubar e matar usando fardas de soldado da confederação quando a guerra eclode.

O motivo do herói ficar na cidade é um só: uma bela mulher (Claire Trevor), de família nobre, e que é constantemente convidada a se casar com o professor. Mas seu coração balança pelo charmoso iletrado de bom coração que chegou à cidade. Algo acontece que os afasta do casamento e a história se desenvolve com uma rapidez característica das obras de Walsh, um homem que provavelmente faria sucesso nos dias rápidos de hoje também.

Há quem diga que os heróis de Walsh são homens em crise pessoal, homens que não têm nada com o que se agarrar. O herói de COMANDO NEGRO surge assim. Porém, ele sente que tem algo a que se apegar quando se apaixona. E depois quando se dedica à profissão de homem da lei. É um homem que se reinventa de fato, como diz o crítico americano Dave Kehr no ensaio "Crisis, Compulsion, and Creation: Raoul Walsh’s Cinema of the Individual", um dos mais belos textos sobre a personalidade dos filmes do diretor.

+ TRÊS FILMES

DUMBO

Provavelmente seja um dos clássicos da Disney que mais envelheceu com o tempo. Feito após o sucesso de crítica de Fantasia, este filme tenta trabalhar com as possibilidades da animação sem necessariamente se preocupar tanto com a história, que aqui é um fiapo. Tanto que o filme só tem uma hora e poucos minutos de duração. A sequência em que Dumbo finalmente voa demora e eu esperava que fosse um pouco mais emocionante. Podiam ter explorado mais a tristeza da separação dele da mãe. E acho que os corvos hoje em dia talvez fosse uma escolha de gosto duvidoso, representado com vozes de negros. Mas, enfim, não deixa de ser um interessante retrato de uma época. Direção: Samuel Armstrong, Norman Ferguson, Wilfred Jackson, Jack Kinney, Bill Roberts, Ben Sharpsteen, John Eliotte. Ano: 1941.

PERSONA/QUANDO DUAS MULHERES PECAM (Persona)

Ver PERSONA no cinema não tem preço. Foi minha primeira vez, embora já tenha visto o filme em casa três vezes. Mas é um filme tão etéreo, tão pouco palpável, que é como se fosse um sonho que a gente esquece. Um sonho importante e de imagens poderosas. E de texto poderoso. Como Bergman conseguia isso?! É impressionante. Cada quadro, cada cena merece um estudo à parte. E que valorização dos rostos das mulheres! Não sei se outro diretor era capaz disso. Direção: Ingmar Bergman. Ano: 1966.

SEM LEI E SEM ALMA (Gunfight at the O.K. Corral)

Depois de ter visto o excelente A LEI DA FRONTEIRA, de Allan Dwan, fica difícil não fazer uma série de comparações com mais este filmes que trata de Wyatt Earp e Doc Holliday. Além de não trabalhar tão bem a amizade dos dois, o clímax chega a ser até enfadonho. O que eu mais gostei foi da parte técnica. A fotografia em technicolor é linda e a cópia em 720p dá uma dimensão do que deve ter sido ver esse filme no Vistavision, na época. Direção: John Sturges. Ano: 1957.

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