quinta-feira, julho 27, 2017

DUNKIRK

Não deixa de ser um baita banho de água fria ver que o tão insensado DUNKIRK (2017), de Christopher Nolan, é mais uma de suas picaretagens. E a comparação absurda que foi feita recentemente no The Guardian de Nolan com Stanley Kubrick? Em GLÓRIA FEITA DE SANGUE, Kubrick leva o espectador para o meio de um fogo cruzado dentro de uma grande guerra, e sem precisar do recurso IMAX pra isso. Infelizmente é difícil imaginar DUNKIRK brilhando fora de uma sala com as dimensões de uma tela gigante.

Claro que as imagens são belíssimas, de encher os olhos, e que também é digno de louvor a intenção de fazer o seu filme quase que inteiramente em película 70 mm, como também o fez Quentin Tarantino quando rodou OS OITO ODIADOS. Mas se as qualidades de um filme se evidenciam e crescem quando vistas em IMAX, seus problemas também ficam ainda mais visíveis. No caso, o que vemos é um trabalho raso, sem emoção genuína, sem impacto, que privilegia as imagens e possui alguns diálogos e falas de gosto duvidoso, como na cena em que um garoto está prestes a morrer e diz que nunca foi bom na escola e morrer na guerra seria uma boa, seria uma honra para a família. Talvez ele não tenha dito exatamente isso, mas é essa a mensagem.

O que há de interessante para quem acompanha a obra de Nolan, não necessariamente gostando de tudo que ele faz, é perceber novamente a obsessão por um jogo temporal. Há três ações temporais que acontecem durante a narrativa: uma com um intervalo de uma semana, no Molhe, com um grupo de soldados britânicos esperando serem resgatados dos ataques; outra ação com um intervalo de um dia em um barco capitaneado pelo civil vivido por Mark Rylance, que tem a intenção de salvar o máximo possível de soldados britânicos naquele barco de passeio; e a terceira ação acontecendo em um intervalo de uma hora, quando vemos três pilotos britânicos tentando se defender e também atacando aviões alemães próximo ao local onde acontece a história.

Esse jogo temporal já foi explorado por Nolan em filmes tão distintos quanto AMNÉSIA (2000), A ORIGEM (2010) e INTERESTELAR (2014). Este terceiro talvez seja o exemplo mais bem acabado de todos os seus trabalhos como um todo. Esses e os demais são exemplos de filmes que trazem uma forte ambição artística, sendo que em boa parte das vezes nem sempre suas intenções são bem-sucedidas, embora possa sempre se encontrar também um conteúdo político curioso, inclusive nos filmes da trilogia Batman.

No caso de DUNKIRK, há quem veja no filme uma visão pró-Brexit, no sentido de que o que mais interessa para aqueles homens é salvar a pele dos britânicos. Que se danem os franceses. Há sim uma generosidade e um interesse em ajudar o próximo e nada mais explícito do que o barco comandado pelo personagem de Rylance, mas o próximo que interessa são os soldados ingleses que estão acuados e sendo chacinados pelos nazistas naquele lugar bonito, na fronteira da Bélgica com a França.

E falando em lugar bonito, as imagens do céu azul de um belo dia de sol também ajudam a tornar tudo muito agradável de ver. Pelo menos até o momento em que o azul e o branco do céu cansam, bem como as repetições das ações e das situações, seja no céu, no ar ou na terra. Pode-se sentir também mais um fascínio pela guerra do que um sentimento de horror, coisa que poderia se perceber em obras como O RESGATE DO SOLDADO RYAN e o já mencionado GLÓRIA FEITA DE SANGUE, para citar esses que talvez sejam os filmes que mais levam o espectador para dentro da ação.

DUNKIRK não consegue isso. Talvez porque os personagens são pouco interessantes, rasos, ou o tom de heroísmo com aquela música do Hans Zimmer meio genérica seja um convite ao sono. Nada contra esse tipo de cinema que exalta o heroísmo e até mesmo o nacionalismo, ainda mais em se tratando de uma guerra contra os nazistas, mas importar-se com aqueles rapazes sem nome não faria mal algum.

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