segunda-feira, julho 17, 2017

A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (Night of the Living Dead)

E foi aqui que tudo começou. Toda essa explosão de zumbis em filmes, livros, séries, quadrinhos, games, peças e até em passeatas. Tudo começou com este filme dirigido por um jovem de 28 anos chamado George A. Romero. Diferente de seus zumbis, ele preferiu não seguir vivo após a luta contra o câncer de pulmão. Mas o impacto de A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (1968) na história do cinema (não apenas de horror) vai ficar pra sempre. Ou pelo menos até o dia em que aparecer uma epidemia de zumbis e todos esses filmes forem, de alguma maneira, perdidos.

Romero não foi apenas o criador dos zumbis modernos que continuam sendo copiados e explorados até a exaustão. Alguns outros filmes de impacto também tiveram seu nome à frente, como foi o caso de suas parcerias com Stephen King, CREEPSHOW - SHOW DE HORRORES (1982) e A METADE NEGRA (1993), e com Dario Argento, para adaptar Edgar Allan Poe em DOIS OLHOS SATÂNICOS (1990). Ou de suas originais histórias de vampiro (MARTIN, 1978) e de animal assassino (INSTINTO FATAL, 1988). Sem falar nos outros cinco filmes de zumbis que também foram um reflexo no contexto social e político em que foram realizados.

A NOITE DOS MORTOS-VIVOS talvez não tenha sido o primeiro filme de horror a usar sua história como alegoria para fazer uma crítica social, mas certamente é o mais lembrado. Em 1968, os negros lutavam pela igualdade social em uma América cheia de preconceitos. Muitos morreram lutando, inclusive alguns líderes como Martin Luther King e Malcolm X, covardemente assassinados. E Romero ainda teve a coragem de colocar um protagonista negro, Ben (Duane Jones), como o homem mais sensato e centrado entre os sobreviventes da casa, enquanto os brancos ou pareciam catatônicos, caso de Barbra (Judith O'Dea), ou totalmente egoístas, caso do senhor careca que quer medir forças com Ben, vivido por Karl Hardman, também um dos produtores do filme.

Umas das coisas que mais impressiona em A NOITE DOS MORTOS-VIVOS é seu ritmo ágil que até hoje nos deixa com a adrenalina lá em cima. E isso começa já nos primeiros 10 minutos de duração, quando surge o primeiro zumbi no cemitério e ataca Barbra e seu irmão. A partir daí a brincadeira de pega-pega só para quando o filme termina, e tudo passa com uma rapidez e fluidez narrativa impressionante e em um registro cru da luta pela sobrevivência daquelas pessoas dentro daquela casa.

E tudo o que se aprendeu sobre os zumbis está aí, nesta espécie de manual. Até então os zumbis que eram vistos nos filmes tinham raízes no Haiti ou imediações, a partir de feitiços. Zumbis que comem carne humana e só morrem com um tiro ou pancada forte na cabeça nasceram aqui. Curiosamente, Romero vai tornando seus zumbis mais inteligentes ao longo de seus demais filmes. Já neste primeiro filme vemos alguns deles pegando pedaços de pau para quebrar a casa, coisa que não se vê em THE WALKING DEAD, por exemplo.

E assim Romero fez história matando três coelhos com uma só cajadada. Ao mesmo tempo em que criou os zumbis modernos (mesmo sem utilizar o nome zumbis em momento nenhum do filme), ele também popularizou o cinema de horror como crítica social. Mas tudo seria apenas uma nota nos livros se A NOITE DOS MORTOS-VIVOS não fosse também um baita filme cheio de suspense e horror que nem o tempo nem o baixo orçamento tratou de diminuir. Ao contrário: o primeiro longa de Romero só cresceu ao longo dos anos. Este gigante (até na estatura) vai fazer uma falta imensa, mas seu legado está aí, crescendo-se e multiplicando-se.

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