terça-feira, julho 11, 2017

A GAROTA OCIDENTAL - ENTRE O CORAÇÃO E A TRADIÇÃO (Noces)

Certos filmes se fazem necessários menos por suas implicações estéticas e mais por sua necessidade de mostrar ao mundo certas injustiças sociais. Afinal, vivemos na era da informação e certas coisas que a mulher tem suportado durante séculos e séculos precisam ser, a princípio, conhecido de todos, para que então algo possa ser feito, mesmo em se tratando de uma cultura muito resistente, que é a cultura muçulmana, que se subdivide em variados povos, etnias e crenças, mas que em qualquer lugar que se vá, vemos a mesma situação que coloca a mulher como a que mais sofre violência, abuso e falta de liberdade.

No caso de A GAROTA OCIDENTAL - ENTRE O CORAÇÃO E A TRADIÇÃO (2016), de Stephan Streker, somos apresentados à história de Zahira (Lina El Arabi), uma jovem paquistanesa que é obrigada pela tradição familiar a escolher um homem paquistanês, mesmo morando em uma moderna cidade belga e bastante disposta a se opor às vontades de sua família. Para piorar ainda mais a situação da pobre moça, ela está grávida de um rapaz que não quer assumir a paternidade. Ela tenta, em algum momento, fazer o aborto, mas é impedida por sua consciência. Ela pede para que o procedimento seja interrompido.

Um dos grandes méritos do filme é nos colocar no lugar de Zahira, já que desde o começo do filme sentimos uma angústia que permanece até o fim da projeção. Aliás, que permanece um bom tempo depois que os créditos sobem e voltamos às nossas casas, um bocado tristes pela situação de uma entre tantas mulheres paquistanesas (ou de outra nacionalidade mesmo) que acabam tendo o mesmo fim. E será que a culpa do destino de Zahira (que eu não disse qual foi) é da religião e da cultura, que aprisionam as pessoas, ou há algo que se aproxima de maldade pura nisso? Sei que no que é mostrado no filme é uma questão complexa, mas não deixamos de fazer esse tipo de questionamento.

O filme tem uma aproximação tão forte com a protagonista que quase se aproxima de um registro documental, com uso de câmera na mão em diversos momentos. Mesmo os momentos em que Zahira tenta se libertar, fugindo de casa ou mesmo da cidade, com um rapaz que diz gostar dela, parece inquietante, pois há sempre uma impressão de algo muito ruim que está prestes a acontecer. Isso demonstra a força da direção de Streker, este cineasta belga que está tendo sua primeira obra lançada no Brasil em circuito comercial. E talvez tenha chamado atenção dos distribuidores justamente pela temática mais apelativa, no bom sentido do termo.

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