segunda-feira, novembro 28, 2016

A OPINIÃO PÚBLICA























O que mais me incomodou em A OPINIÃO PÚBLICA (1967) foi o fato de o filme não ter um foco. Pelo menos não tão explícito ou muito centrado. Tudo o que ele tem mais de precioso parece ser fruto do acaso. Arnaldo Jabor, ainda bem jovem, mas já com essa mania de ter ideias prontas sobre tudo (no caso, sobre a classe média), aponta sua câmera para pessoas normais conversando sobre os mais variados assuntos: seus amores, suas frustrações, seu trabalho, seus sonhos de vida etc. Isso em um cenário bem interessante para que o olhar seja direcionado: o Brasil de 1966/67.

Naquela época, a ditadura militar já tinha tomado o seu curso, mas ainda não se manifestara em toda a sua rigidez, o que aconteceria em 1968, com o AI-5. E nesse cenário o filme dá voz às mais diferentes pessoas, de rapazes que não sabem ainda o que o futuro lhes reserva, e que precisam economizar o dinheiro do transporte para poder ir ao cinema com a namorada, a moças que pensam sobre o amor, sobre o casamento, sobre a ilusão de amar. É triste ouvir o depoimento de uma delas, que, já casada, diz já estar conformado com sua função de preparar a casa e a comida para o marido e de vez em quando, quando puder, sair para passear.

Há também uma filmagem curiosa de um velho militar que fala sobre a importância de ser uma boa pessoa e valorizar a família e o país. Enquanto isso, uma criança não para de olhar para a câmera e fica brincando com ela, oferecendo mais espontaneidade àquele momento. Há outra cena envolvendo uma criança, que tira do sério a mãe, que começa a lhe dar umas palmadas. Isso também é algo que foge do controle do adulto e que é um interessante espelho da sociedade daquela época.

O que parece bastante destoante é a cena em que vemos Jerry Adriani. E depois também vemos o Chacrinha, ainda que de longe, para flagrar o público do programa. Tudo bem que isso serve para dar uma amostra mais abrangente de uma geração supostamente alienada, mas acaba tirando a voz de um anônimo para mostrar um sujeito famoso, o cantor da Jovem Guarda. Não sei. Devo ter ficado muito acostumado com os anônimos dos filmes de conversa do Eduardo Coutinho.

Irregular pra caramba, A OPINIÃO PÚBLICA tem ainda uma narração um tanto incômoda, mas que serve para dar um ar irônico sobre o objeto retratado, ou seja, a classe média, essa classe que, "por não saber para onde vai, anda correndo, por não saber o que teme, está paralisada de medo". Esses são alguns dos textos descritivos da voz que procura conduzir o espectador, mas que acaba tornando o documentário bem estranho, além de bastante preconceituoso com o seu objeto de pesquisa.

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