domingo, novembro 20, 2016

INDIGNAÇÃO (Indignation)























James Schamus é um produtor de bom gosto, que trabalhou diversas vezes com Ang Lee e talvez por isso tenha herdado uma sensibilidade especial, de modo a conseguir dirigir um trabalho tão bom quanto INDIGNAÇÃO (2016), desses filmes que precisam de sequências longas, ainda que com muito uso do campo e contracampo, para que possa dar conta minimamente do texto denso de Philip Roth, autor do romance homônimo lançado em 2008.

A história, porém, se passa durante o período de juventude do escritor, na década de 1950, mais especificamente no ano de 1951, quando explodia a Guerra da Coreia e os Estados Unidos ainda não haviam testemunhado o nascimento oficial do rock'n' roll, que se manifestaria como uma forma de extravasar tanta energia e intensidade daquela juventude. O personagem principal, o jovem Marcus (Logan Lerman, de AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL), é um garoto bom e aparentemente muito centrado e correto. Mas há algo nele que o deixa particularmente irritado com as regras impostas pela sociedade.

E é interessante esse aspecto, pois, por mais que nos coloquemos em seus sapatos, e muitas vezes com muito prazer, especialmente a cada cena positiva com ele e Sarah Gadon (da minissérie 11.22.63), o filme não o torna dono da verdade. É muito possível questionar seu ponto de vista e suas atitudes, por mais que a sabatina com o reitor da universidade (grande momento de Tracy Letts) seja um tanto desnorteadora.

A trama se inicia com os últimos dias de Marcus com sua família em New Jersey, antes de passar a morar na Winesburg College, em Ohio. É lá que percebemos sua dificuldade (ou má vontade) de socialização, por mais que, inicialmente, ele tenha simpatizado com seus dois colegas de quarto. Sua intenção ali é especialmente estudar. Quem acaba fazendo com que ele mude de ideia é uma bela e aparentemente recatada jovem, cujo nome ele cita em voice-over com ar respeitoso, Olivia Hutton, de modo a torná-la, desde o primeiro instante, especial.

E o tímido e inexperiente Marcus resolve convidá-la para sair. O resultado do primeiro encontro é inesquecível. Tanto que o rapaz, com aquela mentalidade tão conservadora do início dos anos 1950, não sabe como lidar com o comportamento mais ousado daquela moça, que, para nós, espectadores, é uma promessa de felicidade, algo a não se deixar escapar. Tudo bem que Olivia Hutton é uma garota complexa – tem um histórico de problemas mentais em uma instituição psiquiátrica –, mas sua doçura, beleza e encantamento compensam tudo isso.

O trabalho de direção de atores, o cuidado com a montagem das cenas, especialmente as mais longas e tensas (ou intensas), e os belos enquadramentos em scope, fazem de INDIGNAÇÃO um dos mais belos filmes sobre a juventude dos últimos anos. Schamus sabe muito bem quando colocar as poucas intervenções narrativas retiradas do livro de Roth, e sabe quando utilizar apenas imagens para compor este filme que nos leva para junto do personagem, provavelmente por identificação com esse momento tão conturbado e ao mesmo tempo tão mágico, que é a juventude e seus encantos e dissabores.

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