domingo, abril 03, 2016

A JUVENTUDE (Youth)



Paolo Sorrentino não é um cineasta fácil, além de ser talvez mais odiado do que querido. É necessário uma predisposição ao seu estilo nem sempre de fácil absorção e tão afeito aos sentimentos de depressão e apatia. Isso se percebe principalmente em AQUI É O MEU LUGAR (2011) e em menor escala também em A GRANDE BELEZA (2013). Em menor escala pois o cineasta de 46 anos demonstra um carinho imenso pela fase outonal da vida. E isso se repete em A JUVENTUDE (2015), uma espécie de reprise a esse olhar.

Sai de cena o grande Toni Servillo e entram outros grandes atores, dessa vez ainda mais célebres e conhecidos, Michael Caine e Harvey Keitel, dois gigantes do cinema mundial que vinham trabalhando como coadjuvantes de luxo em produções mais recentes. Sorrentino lhes confere o protagonismo novamente.

Em A JUVENTUDE, Michael Caine é o maestro Fred Ballinger, um homem amargurado que está passando uma temporada em um spa de luxo nos alpes suíços com seu melhor amigo, o cineasta Mick Boyle (Keitel), e com sua filha e assistente vivida por Rachel Weisz. No lugar, Sorrentino até inclui um sósia do Maradona, que havia recebido uma dedicatória especial do diretor quando o mesmo recebeu o Oscar de filme estrangeiro em 2014.

Como a passagem do tempo é um dos principais temas de A JUVENTUDE, é natural que em meio aos corpos enrugados também ganhem destaque os corpos jovens e perfeitos, como é o caso da Miss Universo que adentra nua a piscina em sequência memorável. Aliás, vale destacar que a beleza plástica que Sorrentino dá ao filme em diversos momentos tanto vale para os corpos jovens quanto para os corpos velhos.

Uma coisa que o filme requer do espectador é que aceite o tempo próprio do cineasta. Quem já viu pelo menos dois trabalhos dele sabe mais ou menos o que esperar. Talvez até tenha criado certa antipatia, na verdade. E há também uma relação muito próxima do cineasta com a apatia, que está muito presente em Fred Ballinger, embora depois saibamos que se trata de uma espécie de tentativa de esconder os sentimentos, e isso fica explícito na cena do emissário da Rainha da Inglaterra implorando a presença do maestro no aniversário do Príncipe Phillip.

Embora seja um filme sobre a velhice – a juventude aparece como um momento distante, quase longe da memória, como vemos nos diálogos entre Fred e Mick –, o filme tem uma vitalidade admirável, iniciando-se com uma cantora em um palco giratório ofertando música boa para um público seleto. Ao mesmo tempo, há um clima quase hipnótico no ar, graças ao andamento lento associado à beleza das imagens de cores vivas – o diretor de fotografia é Luca Bigazzi, o mesmo dos trabalhos anteriores do cineasta.

A JUVENTUDE é um filme que aposta mais na força das cenas, das imagens e dos personagens do que em um enredo. No começo, até pensamos que o convite do emissário da Rainha seria a força motriz da trama, mas isso passa longe de ser. Há camadas de subtramas, como a que envolve a filha de Fred, que vive um momento difícil, depois de ter sido abandonada pelo marido. E em alguns momentos personagens sem nome surgem do nada em pequenas passagens, como a jovem prostituta ou o citado jogador de futebol aposentado cujo nome nunca é citado.

O que se percebe ao final de A JUVENTUDE é que é um trabalho bem mais melancólico que A GRANDE BELEZA. Embora seja possível enaltecer a vida, há inúmeros momentos em que os personagens lamentam não terem feito determinada coisa, como quando Fred diz que daria 20 anos da vida dele por uma noite com determinada moça de sua juventude. E principalmente o modo como as coisas terminam para o maestro, no que se refere à sua esposa e também ao seu amigo. Dessa forma, o suposto enaltecimento da vida em todas as suas fases acaba ganhando contornos amargos.

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