segunda-feira, julho 12, 2010

O PODEROSO CHEFÃO - PARTE III (The Godfather: Part III)



Mais de vinte anos separam a primeira vez que vi O PODEROSO CHEFÃO - PARTE III (1990) no cinema e a revisão que fiz recentemente em dvd. Na verdade, demorei a escrever sobre o filme, que vi já faz alguns meses, porque estava querendo terminar de ouvir/ler os comentários em áudio de Francis Ford Coppola, assim como fiz com os dois primeiros filmes. Acontece que os comentários desta terceira parte não são tão interessantes quanto foram nas demais - em certo momento, Coppola dá uma receita de gnocchi! - e aí fui acompanhando com preguiça e com um intervalo de tempo bem maior. Preferia ver outro filme a encarar a "obrigação" de continuar a acompanhar o Coppola falando. Mas felizmente concluí tudo nessa semana. O que mais se destaca e que ao mesmo tempo irrita e enternece é o modo como o papai coruja Coppola fala bem o tempo todo de sua filha Sofia, que na época sofreu muito com as críticas da mídia.

O cineasta diz que quis Sofia Coppola para o papel de filha de Michael Corleone (Al Pacino) para se aproximar ainda mais da dor de Michael, que seria também a sua dor, já que ele amava tanto Sofia, que foi tão criticada. Ela chegou a ficar durante as filmagens com a autoconfiança lá embaixo. Todos consideravam um equívoco a sua escalação. Mas mesmo com a quantidade de vezes que Coppola cita Sofia, não deixa de ser bonito vê-lo dizendo: "É duro pra mim ver minha filha chorar", na sequência em que ela chora no teatro, ao saber que o pai proibiu seu romance com Vincent (Andy Garcia), aquele que substituiria o posto de Michael.

Outro momento bonito dos comentários de Coppola é quando ele fala da tentativa de Michael de se reconciliar com Kay (Diane Keaton). Ele diz: "É uma pena que tão pouca gente esteja disposta a aguentar as dificuldades do casamento para chegar a um ponto em que estão com alguém por mais da metade da vida. É uma pena que mais pessoas não paguem pra ver o que um casamento pode vir a ser." Acaba sendo uma espécie de crítica ou lamento às novas gerações, que se separam rapidamente, pelos mais variados motivos. Também é um modo de ele demonstrar o respeito que ele sente pela instituição da família.

Para encerrar essa parte do texto, que deveria ser sobre o filme e não sobre os comentários em áudio, destaco a curiosidade que Coppola conta sobre seus ancestrais, afinal, não é muita gente que tem saco de ler/ouvir os tais comentários. A bisavó de Coppola bordava e fazia crochê e coçava o nariz com a agulha de costura. O nariz infeccionou e a única saída foi amputá-lo. "Essa linda jovem sem nariz" foi forçada a casar com um primo para não ficar solteira. E assim nasceram os Coppolas. Coppola finaliza, dizendo que é por isso que toda a família é louca.

Quanto ao filme em si, considero-o inferior aos demais, o que não diminui o seu valor e o seu impacto. Ainda assim, é uma das melhores obras de Coppola. Lembro que na época da premiação do Oscar, O PODEROSO CHEFÃO - PARTE III disputou a categoria principal com outro filme de gângster, que eu considerava melhor: OS BONS COMPANHEIROS, de Martin Scorsese. Ambos acabaram perdendo para DANÇA COM LOBOS, de Kevin Costner. A título de curiosidade, e até para refrescar a minha memória, os demais concorrentes eram TEMPO DE DESPERTAR e GHOST - DO OUTRO LADO DA VIDA. Bons tempos aqueles, não?

Comparei o filme de Coppola com o de Scorsese porque ambos tratam de gângsters, mas o filme de Coppola é muito mais uma crônica familiar. As cenas de tiros e violência são poucas e o diretor optou por um andamento mais lento e contemplativo, com vários paralelismos com o primeiro filme da trilogia. A começar pela cena de uma festa familiar. Agora, Michael Corleone está velho e cansado. Não é mais aquele homem com sede de sangue dos anteriores. Há até espaço para crise de consciência, de uma necessidade de expiar os seus pecados. Mesmo que a Igreja seja mostrada como um antro de corrupção. Como a trama se passa nos anos 70, vemos um pouco da conspiração no Vaticano para matar o Papa João Paulo I, que Coppola acreditava ser um homem bom e progressista. E que também sabia coisas demais.

A presença de Andy Garcia como o sobrinho que toma o lugar de Michael como líder dos negócios da família é brilhante. O ator foi muito bem escolhido, ainda que não tenha sangue italiano. Gostei também da presença curta, mas bela de Bridget Fonda, como uma repórter que vai pra cama com Vincent, o personagem de Garcia. Aliás, a primeira (e ótima) cena de tiroteio do filme envolve os dois. Também inesquecível a sequência do helicóptero. Há uma necessidade de fechar todas as pontas, já que são vários os personagens. E Coppola consegue isso com muita habilidade. O final nas escadarias é trágico e dramático e ainda conta com uma música linda e triste ao fundo. Podemos dizer sem sombra de dúvida que Coppola fechou com estilo a sua obra máxima.

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