quinta-feira, julho 22, 2010

O GRÃO



Estreia na direção de longas-metragens de Petrus Cariry, O GRÃO (2010) tem tido uma boa trajetória em festivais nacionais e internacionais desde 2007. Trata-se de um belo filme, que faz uma ponte entre o cinema tradicional e o mais moderno. A narrativa também faz uma ponte: dessa vez, entre a vida e a morte. Se o filme fosse feito em Dublin, talvez se falasse da influência de James Joyce, o escritor que mais falava sobre a paralisia de sua cidade, além de flertar também com temas mórbidos. Mas esse tema é universal e cai como uma luva numa cidade pobre do interior do Nordeste brasileiro.

O tempo que passa vagarosamente é visto tanto através das imagens quanto numa das falas, quando a câmera destaca a moça e a sua mãe lavando roupas num açude tratando de explicitar o "tempo que não passa", além da vontade de sair daquele "fim de mundo". O núcleo familiar é composto por um pai desanimado, pastor de cabras e homem de poucas palavras; uma esposa insatisfeita com o pouco dinheiro que entra na casa; a avó às portas da morte; uma moça que está prestes a se casar; e um menino, que gosta de ouvir as fábulas sobre rainhas e elementos mágicos, contadas pela avó.

A velhinha cansada conta a história em pedaços. Há provavelmente uma intenção do diretor de fazer uma espécie de paralelismo entre o que acontece na fábula e o que acontece no desenrolar do filme. A velhinha doente pode representar o fim de uma era. O fim de uma geração que cresceu de forma mais simples, onde histórias contadas oralmente ainda despertavam o interesse das pessoas. Apesar de já haver ali naquela casa uma televisão, com uma antena bem ruim, mas que já conecta aquele povo com a "civilização", ainda há uma necessidade por parte do garoto de ouvir com atenção aquelas histórias fabulosas da avó. Há também as crenças tradicionais em rezadeiras, que parece uma mistura de elementos indígenas com o catolicismo.

No aspecto formal, há poucos closes e praticamente não há contraplanos. A maior parte das sequências é com câmera parada, onde se pode ver os movimentos de diversos personagens ao mesmo tempo, como na cena da cozinha, com praticamente toda a família junta, fazendo diversas coisas ao mesmo tempo, lembrando o cinema de Hou Hsiao-hsien. O belo trabalho de som também é digno de destaque.

O GRÃO mostra que Petrus é um diretor com potencial para se tornar, quem sabe, um dos grandes cineastas brasileiros, ainda que se perceba uma vontade de ser mais "vanguardista", o que o tornaria, no máximo, querido de cinéfilos e críticos. A não ser que ele abra mão - pelo menos em parte - do experimentalismo e utilize no futuro um estilo mais clássico. Se bem que esse tipo de concessão não é tão saudável. O público precisa experimentar novas estruturas.

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