sexta-feira, julho 07, 2006

MOUCHETTE, A VIRGEM POSSUÍDA (Mouchette)



Provavelmente o blog vai passar alguns dias sem atualização. Vou hoje para Sampa e, quando voltar, farei um pequeno relatório do que rolou por lá, além das fotos que pretendo tirar da turma. Espero que seja muito legal. Mesmo se eu não fosse me encontrar com ninguém, Sampa por si só já seria um paraíso, com aquele monte de salas de cinema e aquela diversidade de opções. Devo ver ao menos um filme por dia nos cinemas. Antes de sair, contudo, deixo um texto sobre mais um filme do genial Robert Bresson. Um texto de alguém despreparado para a obra de Bresson, é verdade, mas o filme não poderia passar em branco.

Dos filmes de Bresson que vi, MOUCHETTE (1967) mais se assemelha a A GRANDE TESTEMUNHA (1966), o título anterior do cineasta. Inclusive, um dos atores/modelos, Jean-Claude Guilbert, até reprisa o papel de bêbado marginal do filme anterior. Uma das principais diferenças que eu mais notei entre os dois filmes é que MOUCHETTE tem menos personagens e uma trama menos complexa. Ainda assim, demorei a compreender certas situações relacionadas à personagem título. Isso porque Bresson é o rei da sintetização. Além de só apresentar cenas fundamentais para a trama, há as famosas elipses, que nos deixam com algumas dúvidas: teria Arsene matado Mathieu? Mouchette fez sexo com Arsene na cabana? Sem falar no comportamento estranhíssimo dos personagens, fazendo com que o elemento surpresa esteja presente ativamente do início ao fim.

Mouchette é uma menina pobre que é rejeitada pelas colegas e ridicularizada pelos vizinhos e pela professora. Ela tem a mania de jogar pedras em suas colegas de classe que, em vez de brigar com ela, preferem sair do lugar e fingir que ela não existe. Um dia, ela decide demorar mais a chegar em casa. Se ela chegasse em casa, teria que amamentar o filho da mãe doente e encarar a triste realidade. É quando, numa noite de tempestade, ela conhece um bêbado que acredita ter matado um homem. Por ter passado a noite com esse homem, a jovem passa a ser tratada com desrespeito pela vila. Lembra um pouco o que acontece com o sacerdote de DIÁRIO DE UM PADRE (1951). Tanto o padre, quanto Mouchette ou o jumento de A GRANDE TESTEMUNHA são exemplos de criaturas que sofrem por causa da intolerância, da maldade ou da ignorância do povo. Com a diferença que Mouchette não apresenta a mesma pureza dos dois. A menina tem uma natureza malévola que mais a aproxima de Michel, o batedor de carteiras de PICKPOCKET (1959). E como não poderia deixar de ser em se tratando de um Bresson, o final trágico está à espreita.

Estou baixando atualmente O DIABO PROVAVELMENTE (1977) e já tenho no ponto para ver L'ARGENT (1983). Mas o ideal seria eu ver antes os três filmes que antecedem esses dois. Só não sei se vou conseguir baixá-los.

Nenhum comentário: