sexta-feira, julho 21, 2006

MARTHA



Felizmente a Versátil, com o apoio da Fundação Fassbinder, começou desde maio a trazer os filmes do cineasta para o Brasil. Rainer Werner Fassbinder foi o maior discípulo de Douglas Sirk. No entanto, fez filmes extremamente pessoais. MARTHA (1974), embora tenha sido creditado como adaptação de um livro de Cornel Woolrich, segundo uma das entrevistas presentes nos extras do DVD, foi baseado na vida dos pais de Fassbinder. Imagino que, de propósito, Fassbinder deve ter pintado de forma exagerada o casal, já que eu não consigo conceber seres humanos daquela maneira. Principalmente o sádico, representado por Karlheinz Bohm, ator conhecido pelo papel do psicopata de A TORTURA DO MEDO, de Michael Powell.

O filme conta a história de Martha (Margit Carstensen), uma mulher nos seus trinta e poucos anos, ainda solteira, que tem um pai dominador. Passando as férias na Itália, o pai tem um ataque cardíaco e morre. Ela fica num misto de excitação e tristeza com a morte do pai. Logo em seguida, ela conhece um homem que vai mudar a sua vida. A seqüência em que os dois se encontram pela primeira vez é uma das mais memoráveis do filme. A câmera gira 360 graus em torno dos dois. O resultado conseguido por Fassbinder e seu diretor de fotografia foi fantástico. Aos poucos, a relação do casal vai atingindo um grau de sadismo e submissão insuportáveis. Entre as cenas mais chocantes, tem aquela em que Martha adormece enquanto toma sol. Helmut, o marido, não interfere e deixa a pobre mulher dormir até que seu corpo fique totalmente cheio de queimaduras. E ainda assim, ele ainda faz sexo com a mulher enquanto ela grita de dor. Chega uma hora que o principal sentimento que o filme passa é raiva e indignação. Raiva tanto da mulher, por ser excessivamente submissa, quanto dele. Poucas vezes o cinema mostrou um personagem tão frio e perverso.

Tudo isso é contado em cores bem interessantes. Fassbinder usa o technicolor de modo a deixar o seu filme parecido com um melodrama dos anos 50. A homenagem ao principal mestre de Fassbinder aparece de maneira explícita numa cena em que é mencionada uma certa Rua Douglas Sirk. Uma outra forte influência em MARTHA é a obra-prima O ALUCINADO, de Luis Buñuel. O filme do Buñuel também trazia um marido dominador, com a diferença que o protagonista do filme de Buñuel era, ao mesmo tempo, dominador e vítima. Não sei se pode-se dizer o mesmo do Helmut de MARTHA.

Espero que a locadora onde eu aluguei MARTHA também tenha comprado O DESESPERO DE VERONIKA VOSS (1982), LOLA (1981) e O CASAMENTO DE MARIA BRAUM (1979). Espero que lancem também BERLIN ALEXANDERPLATZ (1980), mini-série grande demais para ser vista no cinema - mais de 15 horas de duração! O DVD seria a mídia perfeita, nesse caso. Aguardemos, então.

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