sexta-feira, junho 30, 2006

CLUBE DA LUA (Luna de Avellaneda)



Confesso que quando fui assistir a CLUBE DA LUA (2004), imaginei que se tratava de mais um filme argentino choramingando a crise econômica que assola o país já faz alguns anos. Vários filmes vindos da terra do Maradona, ao menos os que chegaram por aqui, têm se caracterizado por mostrar explicitamente os problemas sociais resultantes dessa crise. Mesmo os que não se propunham a isso, acabavam de uma forma ou de outra apresentando essas questões. Não digo que isso não seja importante e que filmes melancólicos não sejam do meu agrado, mas chega uma hora que isso pode cansar a audiência. Interessante notar que o cinema brasileiro, por exemplo, nunca deixou a impressão de apresentar algum tipo de auto-piedade. Ao contrário, o brasileiro parece encarar as dificuldades da vida com muita coragem e senso de humor. A boa notícia é que CLUBE DA LUA parece ser a obra definitiva sobre a crise financeira argentina. E senso de humor não falta. O filme usa um clube de dança como metáfora dos problemas do próprio país e de como a sociedade lida com isso.

Juan José Campanella trabalha novamente com o excelente Ricardo Darín, que já havia trabalhado com o diretor em UM MESMO AMOR, UMA MESMA CHUVA (1999) e O FILHO DA NOIVA (2001). Darín é um dos líderes de um tradicional clube de dança que está em decadência, mas que já teve momentos gloriosos no passado. A seqüência inicial do filme nos dá uma idéia de como era o clube no passado. Essa seqüência lembra, inclusive, Fellini, com aqueles exageros e aquele tom onírico. Depois, corta para os dias atuais, com Darin lavando o chão de um ginásio. A situação difícil em que se encontra o clube é conseqüência do arrocho salarial e do desemprego.

Com tempo tão nublado, para não tornar CLUBE DA LUA um filme pesado, há diversos momentos engraçados. Destaque para a cena em que Darin sai à procura de um perfume barato. A cena dele tentando arrancar o aparelho dos dentes do filho também é de dar boas gargalhadas. No geral, é um belo filme, ainda que não tenha nenhuma cena tão comovente quanto a cena da reconciliação de O FILHO DA NOIVA. A longa duração (143 minutos) não chega a comprometer, já que o filme vai conquistando o espectador aos poucos. Lá pelo meio é que começamos de fato a simpatizar com os personagens. Quanto ao clube em si, não me pareceu algo tão importante a ponto de eu me solidarizar com a causa do grupo. A comparação com a situação da Argentina é que acaba tornando o filme grandioso. Ou quase.

P.S.: Falando em cinema argentino, soube pelo blog do Guilherme que morreu ontem Fabián Bielinsky, diretor de NOVE RAINHAS, que também trazia Ricardo Darín no elenco. É impressão minha ou nesse ano a quantidade de óbitos ocasionados por paradas cardíacas tem mesmo aumentado?

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