terça-feira, junho 20, 2006

BANDE À PART



Depois do luxuoso O DESPREZO (1963), realizado em cinemascope, technicolor, uma estrela gostosona e muito dinheiro envolvido, Jean-Luc Godard retorna às origens mais humildes com BANDE À PART (1964). Há algumas semelhanças com ACOSSADO (1959). Ambos são filmes baratos de crimes; ambos trazem uma mulher como eixo fundamental da trama. No caso de BANDE À PART, Anna Karina, a musa maior de Godard. Pelo visto, o cineasta era mesmo interessado em histórias de crime. Além de o filme ser baseado num romance barato do gênero, há uma cena em que os dois protagonistas lêem em voz alta trechos de notícias do caderno policial de um jornal.

Quanto a Anna Karina, depois de interpretar uma stripper doida pra casar em UMA MULHER É UMA MULHER (1961) e uma prostituta desiludida em VIVER A VIDA (1962), nada melhor do que mudar um pouco. Em BANDE À PART, Karina é uma jovem inocente que é persuadida por dois sujeitos, colegas de um curso de inglês, a assaltar a casa onde ela trabalha.

Eu adoro filmes de assalto. Mas não dá pra esperar algo convencional de Godard. A história leva meia hora para chegar a algum lugar. Dos momentos anteriores ao assalto, gosto bastante da cena dos três dançando no bar ao som de um ótimo jazz. Godard tem grande talento para seqüências musicais. Karina já havia feito uma cena de dança memorável num bar em VIVER A VIDA. Outra coisa que me agradou no filme foi a narração poética do próprio Godard. Essa narração parece oferecer uma dissonância com o que é mostrado na tela. Na maioria das vezes, as imagens, pelo menos até pouco antes do final, não parecem ter o grau de melancolia que o texto recitado por Godard sugere. Um dos momento mais geniais dessa narração acontece justamente na seqüência da dança no bar, quando o diretor nos revela o que cada um estaria pensando. Ele pára a música e insere os pensamentos dos personagens. Genial. Começo a suspeitar que a cena da dança é a melhor de todo o filme. Parece que a tal cena da dança foi homenageada por Tarantino em PULP FICTION. Fora o fato de que Tarantino nomeou a sua produtora de Band à Part. Mas, se não engano, Godard não foi muito gentil com o Tarantino.

Pena que a cópia que eu vi, em divx, estava pulando, travando ou ficando com problema de sincronia. Não sei se o problema era do divx ou se meu aparelho de DVD já está começando a cansar e a rejeitar o formato. Acho que se eu visse o filme em melhores condições, teria gostado mais. E, ao contrário do que eu imaginava, o "triângulo amoroso" não é muito bem explorado. Mas vai ver não era mesmo a intenção do diretor de enfatizar a relação dos três. Poderia ficar muito parecido com JULES E JIM, do Truffaut.

P.S.: Finalmente recebi meu exemplar da Paisà #3. A seção de DVDs dessa vez está bem mais gordinha. E a revista destaca mais os clássicos.

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