segunda-feira, janeiro 19, 2004

NARC



E já que o assunto hoje é Tom Cruise, comento a seguir um dos mais badalados policiais do ano passado: NARC (2002), de Joe Carnahan. Se não fosse por Tom Cruise, que fez uma bela distribuição desse filme nos EUA, o filme não teria tido tanta repercussão e, conseqüentemente, o diretor não teria sido escalado pra dirigir MISSÃO IMPOSSÍVEL 3.

Pode não ser uma obra-prima, mas o filme de Carnahan tem um vigor raro de se encontrar em filmes policiais atuais. Aliás, o próprio diretor na mini-entrevista que vem no dvd, conta que sente falta daqueles bons policiais da década de 70, estilo CONEXÃO FRANÇA, e que a televisão absorveu pra si as boas histórias policiais. Uma verdade o que ele disse: é mais fácil você ficar entusiasmado vendo uma série de tv como THE SHIELD ou 24 HORAS (se é que dá pra enquadrar essa com um policial) do que vendo um filme policial feito para o cinema. Eu pelo menos, só me lembro de dois fillmes policiais que me deixaram entusiasmado: 15 MINUTOS (2001) e DIA DE TREINAMENTO (2001). A maioria é puro tédio.

Talvez o problema de NARC seja ironicamente o que ele tem de mais interessante: a estilização. Isso faz com que a gente preste mais atenção no jeito inovador de direção e montagem e esqueça um pouco a história. Que na verdade nem é tão interessante assim, mas os personagens são muito bons. Trabalhar na divisão de narcóticos como agente infiltrado no meio das drogas não é brincadeira. Quase todo policial que se mete nesse esquema acaba se viciando também. É o que aconteceu com o três policias da história: o cara que foi morto e os policiais chamados pra investigar o assassinato, interpretados brilhantemente por Jason Patric e Ray Liotta. Liotta, inclusive, está bem diferente, de barba, mais gordo e com um jeitão ainda mais opressor. E o Patric é macaco velho nesse jogo. Já tinha feito um papel de policial que se vicia em droga em RUSH: UMA VIAGEM AO INFERNO (1991).

Mas falando na beleza das imagens, a minha cena preferida é aquela em que os dois agentes estão conversando no carro e a câmera, do lado de fora, mostra o reflexo do vidro, revelando a paisagem de outono, enquanto a conversa que rola é sobre perdas. Ray Liotta é desses caras durões que se dedica totalmente ao trabalho depois de ter perdido a esposa. Já Jason Patric teme também perder a família por causa do trabalho. É uma espécie de tragédia grega, como acentuou Tom Cruise, na mini-entrevista do DVD. Foi o que ele achou quando foi apresentado a esse filme. Provavelmente esse Carnahan vai ter futuro no cinema.

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