sábado, agosto 02, 2025

QUARTETO FANTÁSTICO – PRIMEIROS PASSOS (The Fantastic Four – First Steps)



Quando vejo minha regularidade na escrita nos anos de 2014 e 2015, quando escrevia sobre praticamente todo filme que via, fico um pouco triste com o fato de não conseguir estar fazendo mais isso agora. Mas a verdade é que tudo começou a ficar mais difícil lá em 2017, quando assumi dois turnos na escola. E que piorou ainda mais a partir de 2023, quando passei a ser professor de escola de tempo integral, muito mais desgastante. E os atuais momentos andam sendo ainda mais difíceis, com desafios de ordem familiar e tudo mais. Enfim, a gente faz o que pode e ao menos pequenos textos para cada filme visto, eu tenho feito – embora, para mim, não seja o suficiente, pois são textos muito rápidos e sem um tempo mínimo para reflexão e pesquisa.

Falemos de QUARTETO FANTÁSTICO – PRIMEIROS PASSOS (2025), um dos melhores filmes dos estúdios Marvel, o melhor desde GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3 (2023), que já era uma exceção no meio de tantos filmes ruins ou meia-boca que o estúdio andava despejando, sob o risco de perder seu público – e era o que estava acontecendo, especialmente quando a Marvel também começou a produzir séries para o Disney Plus. E foi na época das séries que tivemos o prazer de ver a melhor delas, WANDAVISION (2021), dirigida por Matt Shakman.

Shakman é basicamente um homem da televisão. Pode-se dizer que é um veterano, tendo dirigido episódios de diversas séries desde o início dos anos 2000, como ONCE AND AGAIN, JUSTIÇA SEM LIMITES, A SETE PALMOS, TODO MUNDO ODEIA O CHRIS, CHUCK, HOUSE, MAD MEN, FARGO, GAME OF THRONES, THE BOYS etc. Mas ele foi sempre uma espécie de operário.

Mesmo em WANDAVISION ele não participou do time de roteiristas, mas a Marvel confiou a ele a direção de todos os nove episódios. Tudo bem que a gente sabe que a Marvel tem essa característica de, com frequência, investir em diretores não-autores, mas o sucesso dessa série acabou dando uma moral para Shakman, já que o projeto de séries de televisão do estúdio acabou sendo um fracasso no fim das contas, mas todo mundo lembra com carinho da série da Feiticeira Escarlate e do Visão, ambos vivendo com seus filhos numa espécie de sitcom típica dos anos 1950.

Por mais que QUARTETO FANTÁSTICO – PRIMEIROS PASSOS não seja perfeito em suas ambições tem tanto uma ambientação de dar gosto quanto uma boa construção dos personagens. Finalmente um filme do Quarteto em que a ideia de família se apresenta de forma tão enfática – como deve ser. E, assim como SUPERMAN, de James Gunn, a intenção de Shakman e do time de roteiristas é aproximar seus heróis de suas décadas de surgimento. Ou do espírito delas. 

No caso do novo filme do Quarteto, a ambientação e o visual retrofuturista é do início dos anos 1960, e isso é algo que agrada bastante, assim como a fotografia bastante colorida e a escolha do elenco para interpretar a família mais importante e querida do universo Marvel. Destaco principalmente Vanessa Kirby, que é o coração do filme, como Sue Storm, que logo no início da trama, se descobre grávida ao fazer um teste de gravidez no banheiro da suíte. Aliás, é difícil não fazer uma conexão da cena do parto neste filme com a cena de PIECES OF A WOMAN. Pedro Pascal está muito bem também como Reed Richards. É um ator de fato carismático, e por mais que sua escalação para viver o Senhor Fantástico tenha sido estranha a princípio, ele tirou de letra.

A montagem é outro destaque: o filme é enxuto, passa rápido e nos convida a ficar sempre interessados em cada momento. Agora, claro que a ameaça de Galactus poderia ter sido mais dramática, ter causado mais impacto, mas ficou suficientemente boa, ainda que não tão boa quanto a história original do Surfista Prateado encontrando o Quarteto nos quadrinhos de Stan Lee e Jack Kirby.

Aliás, não ficou ruim trocarem o gênero do Surfista aqui, vivida por Julia Garner. Achei interessante darem um maior destaque ao personagem do Tocha Human (Joseph Quinn). Johnny Storm até mesmo consegue o que Reed Richards não consegue, ao aprender a língua do planeta da Surfista Prateada. A mudança de gênero, acredito que foi necessária para não trazer uma lembrança mais forte com o filme de 2007.

Este novo é superior em todos os aspectos e toda a sequência dentro da nave é bem empolgante, resgatando a ligação do grupo com a ficção científica, mas sem largar mão de toda as questões familiares. Já quero uma sequência.

+ TRÊS FILMES

EXTERMÍNIO – A EVOLUÇÃO (28 Years Later)

Tenho pouca lembrança dos dois primeiros filmes da franquia Extermínio (2002, 2007), mas isso se deve ao tempo que os vi na telona. Porém, tenho impressão de que gostei mais deste terceiro filme, com o retorno de Danny Boyle na duração e Alex Garland no roteiro, do que dos anteriores, talvez por subverter as expectativas, por trazer algo de novo dentro do subgênero “filme de zumbi”. Antes de mais nada, o menino vivido por Rocco Hayes tem muito carisma e é o coração do filme. Na primeira parte de EXTERMÍNIO – A EVOLUÇÃO (2025), ele e o pai vão para uma espécie de ritual de amadurecimento, em que ele terá que conhecer o mundo habitado por zumbis, o mundo em quarentena, que corresponde basicamente a toda a Grã-Bretanha. Não apenas conhecer, mas atirar em zumbis com arco e flecha. Nisso, Boyle é Garland mostram os zumbis alfa, muito mais mortais e com o detalhe de andarem nus. E há outra novidade que não vou contar para não estragar as surpresas. Sobre os demais segmentos do filme, achei incrível o momento de descoberta dele com a mãe (Jodie Comer), o encontro com o médico, o momento mori, que dá todo um tom mais melancólico e o filme ainda tem espaço para o humor. Também se destaca o estilo de composição visual gerado pelas câmeras digitais e pela montagem nervosa. Filmão.

TERREMOTO EM LISBOA (O Melhor dos Mundos)

Achei um barato saber que em Portugal se fala "terramoto" e não "terremoto". O mais curioso deste thriller português que busca se assemelhar aos americanos na estrutura, com direito a trilha sonora de tensão quase convencional, é que há tanto o tempero lusitano quanto a falta de recursos para fazer um disaster movie ou uma sci-fi apocalíptica. No mais, gosto do quanto há um destaque às relações humanas, como no casal que trabalha junto e na preocupação com os pais da protagonista, que devem sair de Lisboa o quanto antes. Em certo momento, eu me lembrei de GODZILLA, o original japonês dos anos 1950. Mas só por um momento, e só por causa desse quesito. Em TERREMOTO EM LISBOA (2024), o menos é mais no trabalho de Rita Nunes, e é com isso que se obtém um belo trabalho, com direito a uma ótima performance da protagonista, Sara Barros Leitão. Gosto muito das cenas finais, com toda a expectativa.

ANIMALE

Do ponto de vista do que se espera do gênero horror, temos aqui uma variação do filme de lobisomem, com a mudança de animal. Gosto mais dos aspectos plásticos do filme do que de sua ideia e desenvolvimento. Há no início de ANIMALE (2024) o desconforto de vermos a estupidez de uma tourada (que eu não sabia que existia na França) e os maus tratos aos animais, mas depois vemos que isso faz parte da trama e será um elemento importante para a transformação física e psicológica da protagonista, que inclusive é apresentada logo no começo marcando um touro a ferro. De certa forma, o modo como a diretora Emma Benestan apresenta aquele universo é até de certa forma menos violento do que se esperaria, talvez por que hoje as plateias são mais sensíveis a esse tema. A protagonista, vivida por Oulaya Amamra (vista no excelente O SAL DAS LÁGRIMAS, de Philippe Garrel), se doa ao papel da mulher que vive num mundo extremamente masculino e também muito animal. No meio dos homens, ela diz não se interessar por namoros e querer seguir a vida de toureira. Há outro tema que o filme perpassa, mas que acaba ficando ambíguo dentro da narrativa principal, que é o tema do estupro. É bem-vindo como mais um exemplar de filme de horror que trata da violência masculina, mas poderia ter sido mais eficiente.

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