sábado, janeiro 16, 2021
PIECES OF A WOMAN
Como me julgo uma pessoa mais emocional do que racional, tenho um especial apreço por filmes que me tragam fortes emoções. E ultimamente andei tendo uma crise de identidade ao não me emocionar como gostaria com certos filmes mais sutis. E aí eu vejo PIECES OF A WOMAN (2020), o novo e premiado filme do cineasta húngaro Kornél Mundrunczó, e vi que era do que eu estava precisando. Desconheço a maioria das obras dele, mas vi e gostei muito de WHITE GOD (2014) e não gostei e tenho pouca lembrança de LUA DE JÚPITER (2017).
PIECES OF A WOMAN é diferente dos outros dois. O cineasta estava disposto a fazer algo mais humano e sem os efeitos especiais tão visíveis nos filmes anteriores. O ideal é assistir ao filme sem saber nada a respeito, mas as próprias sinopses que circulam por aí já falam das complicações do parto e do sentimento de luto da protagonista. Ainda assim, creio que mesmo já se sabendo da trágico meia hora inicial do filme, mesmo assim é difícil não ficar aflito, não torcer para o sucesso e pela vinda com saúde do bebê.
E quando acabou a meia hora inicial, eu, de queixo caído e arrepiado, já sabia que o filme de Mundrunczó tinha me ganhado. E de fato as cenas seguintes não são melhores e nem mais impactantes, o que é completamente compreensível. É comparável ao que aconteceu com O RESGATE DO SOLDADO RYAN, de Steven Spielberg, nesse sentido. O que não quer dizer que o desenvolvimento da obra não seja também admirável.
Muito do mérito de PIECES OF A WOMAN está no desempenho de Vanessa Kirby, uma atriz que até então não vinha chamado tanto a atenção para seus dotes dramatúrgicos. Talvez seja mais lembrada por quem acompanha a série THE CROWN, onde ela fez a Princesa Margaret jovem. A premiação da atriz no Festival de Veneza e uma bem possível indicação ao Oscar trazem holofotes fortes para ela.
No filme, ela interpreta uma mulher de família rica, casada com um sujeito pobre (Shia LaBeouf). No começo do filme vemos um pouco da rotina de trabalho dela e dele, assim como uma questão envolvendo um carro comprado pela sogra (Ellen Burstyn), explicitando desde então a diferença de classes. Em seguida, somos levados ao plano-sequência de 23 minutos do parto domiciliar, ao drama do casal antes e durante o procedimento.
O bonito de tudo é que o cineasta húngaro apela mais para a emoção e menos para a exploração dos corpos, para e o sangue envolvido, para o voyeurismo. A câmera se interessa mais pela expressão facial das três pessoas presentes em diferentes lugares da casa durante a situação. E Vanessa Kirby é impressionante no quanto altera sentimentos de dor, breve alegria e desespero em diferentes momentos.
Passada a meia hora inicial e uma vez já conquistado o respeito, o filme tem a tarefa então de mostrar os personagens juntando os cacos de suas vidas depois do ocorrido. Corre em paralelo o processo contra a parteira, alegando irresponsabilidade, assim como os preparatórios para o funeral da criança e a busca dos motivos da morte. Enquanto isso, o personagem de LaBeouf tenta trazer de volta o prazer do casamento, tentando, em vão, buscar sexo com a companheira. Há também uma excelente cena com a família reunida.
PIECES OF A WOMAN é dessas obras que nos fazem ter aquele sentimento paradoxal de gratidão por ter nos feito sofrer.
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