terça-feira, fevereiro 21, 2023

HOMEM-FORMIGA E A VESPA – QUANTUMANIA (Ant-Man and the Wasp – Quantumania)



Engraçado como a nossa recepção com os filmes tem muito a ver com nossa expectativa. Fui olhar as produções da chamada quarta fase da Marvel e os títulos que mais criaram expectativas foram HOMEM-ARANHA – SEM VOLTA PARA CASA, de Jon Watts, e DOUTOR ESTRANHO NO MULTIVERSO DA LOUCURA, de Sam Raimi. E de fato são filmes que guardam alguns momentos memoráveis, mas que não demora para ficarem nublados em nossa memória afetiva. Por outro lado, dois títulos um bocado apedrejados apedrejados, como THOR – AMOR E TROVÃO, de Taika Waititi, e PANTERA NEGRA – WAKANDA PARA SEMPRE, de Ryan Coogler, já me agradaram em mais aspectos. E olha que não gostei dos filmes anteriores do Thor e do Pantera, mas, por algum motivo, enxerguei qualidades ou pelo menos muita diversão nesses filmes.

E muita diversão era o mínimo que poderia se esperar de HOMEM-FORMIGA E A VESPA – QUANTUMANIA (2023), de Peyton Reed, filme que abre a quinta fase da Marvel no cinema (e na televisão). Os dois primeiros títulos do Homem-Formiga são bem divertidos, ambos dirigidos também por Reed, que havia saído de interessantes comédias no início da carreira e que acabou “se vendendo” para a Marvel. Ele tem no currículo títulos muito legais, como ABAIXO O AMOR (2003), SEPARADOS PELO CASAMENTO (2006) e SIM SENHOR (2008). A partir de HOMEM-FORMIGA (2015) não se soube de outros trabalhos dele que não fossem da corporação Marvel/Disney. Acho isso uma pena, e é pior ainda quando a essência do seu humor se apresenta totalmente perdida no novo filme.

Neste terceiro título do Homem-Formiga (e da Vespa, sendo que a Vespa é a personagem da família menos importante na história!), talvez por ter a obrigação e o engessamento de ser um filme para abrir a nova fase e introduzir de maneira mais definitiva o super-vilão da vez, Kang, o Conquistador (Jonathan Majors), que já havia sido visto, mas sem ter seu nome citado, na primeira temporada de LOKI. Se na série do deus da mentira essa ideia de universos alternativos foi muito bem trabalhada, neste filme a ideia da pluralidade a partir da probabilidade se apresenta pelo menos em dois momentos. E o próprio universo quântico aparece como sendo um espaço muito plural e com referências a filmes de ficção científica dos anos 1950 e ao universo de Star Wars. Aliás, quando começa, eu até me animo com o filme. Infelizmente a trama não tem força e há um momento que deveria trazer pelo menos um pouco de entusiasmo para a plateia, que é o momento da revolução do povo de lá contra Kang, a partir da ajuda da “família formiga”.

Na trama, Cassie (Kathryn Newton), filha de Scott Lang (Paul Rudd), descobre uma maneira de se comunicar com o universo quântico. Acontece que isso foi um erro terrível, já que Janet (Michelle Pfeiffer) havia estado presa nesse universo por 30 anos e não contou os perigos que lá existem. O que é um erro do roteiro, talvez, mas que eu relevo em função da trama. Assim, esse universo acaba sugando os cinco membros da família, incluindo também Hope (Evangeline Lilly) e o Dr. Hank Pym (Michael Douglas), para lá.

Enquanto Michelle Pfeiffer ganha o status de protagonista na primeira metade da narrativa, já que ela é a pessoa que mais conhece aquele universo, dita as regras e apresenta os amigos e inimigos, o próprio Paul Rudd fica muito apagado. Além do mais, ver o filme inteiro se passando em cenários de fundo verde cansa um bocado. É quase como a experiência de AVATAR – O CAMINHO DA ÁGUA, só que em 3D muito vagabundo e efeitos menos sofisticados. Bom, pelo menos não é insuportável de ver quanto o filme de Cameron. O elenco carismático ajuda um pouco a tornar a jornada um pouco mais satisfatória. Enquanto isso, uma música genérica (Christophe Beck é o compositor) torna a experiência ainda menos interessante.

Ao final da sessão, com a falta de entusiasmo do público (que batia palmas até para os filmes mais fracos da Marvel), já fica claro o cansaço dessas produções construídas em esquema industrial e sem o interesse no principal: criar um bom filme, independente de estar ou não atrelado a um universo compartilhado. Para este ano temos mais dois títulos: GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3, de James Gunn, e THE MARVELS, de Nia DaCosta. Mais uma vez, não espero nada deles.

+ DOIS FILMES

M3GAN

Talvez não seja regra, mas é bom ficar com um pé atrás quando um filme for "apenas" produzido por James Wan, e não dirigido por ele. Há exceções, mas não creio que M3GAN (2022), de Gerard Johnstone, esteja entre elas, ainda que seja, sim, um filme que se assiste com interesse e que lida com o velho tema do homem (no caso, uma mulher) que brinca de deus, ao criar uma inteligência artificial super evoluída, e que acaba causando uma série de problemas. M3GAN é ficção científica com terror, mas com muitos momentos de humor bizarro. E talvez esse humor, que parece ser um indicativo de que seus criadores não o levam tão a sério, seja seu maior trunfo. Tanto que o sucesso de público já garantiu uma continuação.

PINÓQUIO POR GUILLERMO DEL TORO (Guillermo del Toro's Pinocchio)

Acho que meu problema com o filme foi a dificuldade de me envolver com o drama dos personagens, o que com frequência acontece com animações mais infantis, embora esta esteja também muito interessada em agradar aos adultos. O interessante desta nova versão é que há várias mudanças na história original, ou nas histórias que são frequentemente contadas em outros filmes. Justamente a parte que me deixou assombrado, quando criança, ficou de fora dessa versão, que parece trazer uma espécie de racionalidade para a magia da madeira que ganha vida. Mas acredito que há uma coisa de que eu gostei e comprei no final, que foi o fato de Pinóquio passar a ser amado pelo que ele é e sair do estigma de moleque que vive entrando em encrenca para desespero do pai. A animação em stop motion de PINÓQUIO POR GUILLERMO DEL TORO (2022), assinada por del Toro e Mark Gustafson, dá um ar bonito de imperfeição e a criação do Pinóquio foi muito feliz em aproveitar as características da madeira.

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