quarta-feira, agosto 10, 2022

CHA CHA REAL SMOOTH – O PRÓXIMO PASSO (Cha Cha Real Smooth)



Nem tinha pensado em escrever um texto um pouco mais dedicado sobre CHA CHA REAL SMOOTH - O PRÓXIMO PASSO (2022), mas, apesar de ter alguns sentimentos mistos sobre o filme (ou talvez por causa deles), ele permaneceu nas minhas lembranças por alguns dias. Por mais que Cooper Raiff possa ser comparado a seus antecessores das comédias sentimentais, como Woody Allen e Emmanuel Mouret, é admirável vê-lo tão jovem, com apenas 25 anos, trazendo uma forte assinatura já em seu segundo longa-metragem. A comparação com Allen e Mouret procede, embora o aspecto mais abobalhado de Raiff seja suavizado com sua persona mais gentil e de certa forma mais atraente para as mulheres.

Acho muito bonita a atitude expositiva de Cooper Raiff em sua obra ainda em formação. Este novo filme é bastante coerente com o anterior, O CALOURO (2020), que também trata do amadurecimento, das dores de estar apaixonado e de estar um tanto perdido na vida adulta. O fato de o personagem não ser assim tão jovem para estar ainda sem saber o que fazer da vida e num subemprego explicita uma situação de fragilidade diante da vida e de forte apego à mãe. Isso se apresenta nos dois filmes, sendo que neste segundo até poderia se pensar que o apaixonar-se pela personagem de Dakota Johnson, por ela ser um pouco mais velha do que ele (mas não tanto), seria algo próximo de um complexo de Édipo, lembrando que o filme já começa com ele como garotinho, apaixonado por uma mulher adulta.

Dakota está tão adorável, doce e frágil no filme que não apaixonar-se por ela é quase impossível. Sua primeira aparição surge quanto Andrew, o personagem de Raiff, acompanha o irmão mais novo a um bar mitzvá. Ela aparece na festa acompanhada da filha adolescente, uma jovem que sofre bullying por ser um pouco mais velha (e mais alta) que seus colegas de sala. A garota se atrasou um ano ou dois na escola e lida com o autismo, que diminui sua predisposição a socialização. Andrew, com seu jeito simpático, consegue fazer com que a garota dance com ele na pista. E isso chega a ser fundamental para que ele ganhe a simpatia da personagem de Johnson, uma mulher que tem seus problemas de lidar com o mundo, por conta de problemas de depressão desde a juventude.

O filme cresce muito com a presença de Johnson na tela, com sua sensualidade, seu falar suave, seu olhar ao mesmo tempo lânguido e tentador. Há a cena do banheiro, que é essencial para uma aproximação maior dos personagens. Andrew passa a ser a única pessoa que sabe de um segredo dela, ajuda a levá-la para casa, trata com carinho e atenção a filha. A amizade tende a se encaminhar para algo mais íntimo, mas o fato de ela estar noiva atrapalha um pouco os planos de Andrew.

Há quem ache que Raiff, mais uma vez interpretando um homem carente, mas muito gente boa, estaria escondendo possíveis falhas mais graves de sua personalidade. De todo modo, ficarei feliz de acompanhar a evolução de um diretor que parece estar usando seu trabalho como um divã. Claro que vários cineastas o fazem (até um tempo atrás eu não tinha ideia do quão pessoais são os filmes de Brian De Palma, por exemplo), mas não de maneira assim tão exposta e tão disposta a deixar a emoção vir sem a menor vergonha e com um tanto de ingenuidade.

+ DOIS FILMES

BOA SORTE, LEO GRANDE (Good Luck to You, Leo Grande)

Que Emma Thompson é uma atriz de primeira grandeza, isso todo mundo já sabe. Mesmo assim, eu diria que ela consegue se superar neste magnífico trabalho de atuação e entrega que é BOA SORTE, LEO GRANDE (2022), de Sophie Hyde, um filme realizado apenas em interiores, a maior parte das vezes em um quarto de hotel, e que lida com o sexo e as frustrações que vêm com o envelhecimento para uma mulher que não teve a chance ou a coragem de se permitir. Thompson faz o papel de uma professora de educação religiosa aposentada que contrata os serviços de um profissional do sexo. O filme aposta mais nos conflitos interiores dos personagens, principalmente da ex-professora. Como são poucos os filmes que tratam da sexualidade na "terceira idade", este é mais do que bem-vindo, pois trata o corpo envelhecido com o devido respeito, e traz a ele a beleza, o brilho e a sensualidade que não deixam de haver com as marcas do tempo. O jovem Daryl McCormack está ótimo. Contracenar ao lado de uma atriz como Thompson o tempo todo não é para qualquer um. E o público do cinema parecia muito feliz com o filme, rindo bastante. Finalmente uma obra destinada ao público adulto que pode chamar a atenção de uma audiência maior.

LAÇOS (Lacci)

Um filme que lida muito bem com os dramas de seus personagens em dois momentos distintos de suas vidas. O diretor, Daniele Luchetti, é o mesmo dos muito bons MEU IRMÃO É FILHO ÚNICO (2007) e ANOS FELIZES (2013), filmes que tiveram a sorte de chegar a nosso circuito, ao contrário da maioria dos títulos do realizador. Em LAÇOS (2020), temos a história de um casal que tem sua relação quebrada quando o marido (Luigi Lo Cascio) resolve contar para a esposa (Alba Rohrwacher, sempre ótima) que está tendo um caso extraconjugal e que possivelmente estaria apaixonado por outra mulher (Linda Caridi, a bela moça de ENTRE TEMPOS). A situação ganha contornos dramáticos pelo modo como ambos lidam com a situação, levando em consideração o fato de terem filhos pequenos. Mais adiante, poderemos ver o casal em sua versão mais madura e o filme trazendo luz para rancores e outros sentimentos acumulados ao longo dos anos. Ótimas atuações e uma montagem bem acertada.

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