sábado, junho 25, 2022

THE DARK AND THE WICKED



Como o horror é um dos meus gêneros preferidos, sempre fico muito interessado em saber o que de melhor vem sendo produzido. Infelizmente as distribuidoras brasileiras não têm trazido todos os grandes títulos e por isso mesmo é interessante conseguir alguns dos filmes que nos interessam, aqueles que a gente sabe que há poucas chances de chegar ao nosso circuito, através de meios alternativos. Alguns furam a fila quando um amigo ou amiga chamam a nossa atenção. No caso, a amiga, crítica, professora e estudiosa do gênero Laura Cánepa destacou o caráter assustador de THE DARK AND THE WICKED (2020), o mais recente trabalho de Bryan Bertino, diretor do ótimo OS ESTRANHOS (2008) – infelizmente os outros dois trabalhos do cineasta, eu ainda não cheguei a ver.

E o que mais me deixou impressionado com THE DARK AND THE WICKED foi o fato de que é um filme que não apenas assusta, atordoa e arrepia por uma série de elementos muito bem conjugados, mas também por ter um tom extremamente pessimista com relação ao combate às forças do mal. Desse modo, nem é um filme apropriado a pessoas que estejam com o espírito um pouco mais depressivo.

Na trama, dois irmãos, Michael (Michael Abbott Jr.) e Louise (Marin Ireland), chegam a uma casa afastada do interior para visitar os pais, depois que recebem a notícia que o pai está em estado muito debilitado depois de um derrame, enquanto a mãe está vivendo um tormento ainda não compreendido por eles. 

Um dos trunfos do filme é também lidar com o terror da vida real, como dormir na mesma cama de um corpo moribundo, por mais que esse corpo seja de um ente querido. Além de também nos fazer pensar na morte iminente. Sem falar que a morte em si, uma morte em paz, por assim dizer, é uma bênção, se compararmos com o que o filme nos apresenta a seguir.

Há um trabalho de câmera com a janela scope que contribui muito para que as trevas sejam preenchidas até mesmo por coisas que apenas imaginamos ter visto. Além do mais, como lidar com o demoníaco já foi tão utilizado pelo cinema de horror por décadas, a ponto de se tornar um subgênero difícil de ser bem realizado, é uma dádiva ter uma obra que consiga ser tão arrepiante e tão desesperançada e dolorosa, indo muito além do jump scare e passando um bocadinho longe do que chamamos de diversão.

Não considero o último terço do filme tão bom quanto seus primeiros dois terços, pois há uma tendência em tornar cada vez mais explícito e mais convencional o drama e o horror, mas ainda assim é uma maneira honesta de dar um final digno ao filme. Inclusive, sem querer dar muito spoiler, a cena de Michael voltando para sua família não é apenas perturbadora, mas chega a acentuar ainda mais o sentimento de impotência daquela família diante das forças do mal.

E um dos aspectos de destaque desse mal presente em THE DARK AND THE WICKED é que não temos motivos, não temos uma historinha envolvendo algum fantasma que se sente perturbado por alguma situação passada. Aqui o que vemos é o mal demoníaco, algo já bastante usado em tantos outros filmes, especialmente a partir do sucesso de O EXORCISTA, de William Friedkin, com a diferença que Bryan Bertino tem um cuidado muito especial na condução da atmosfera e no modo como movimenta (ou deixa parada) sua câmera. Certos detalhes fazem uma diferença tremenda.

+ DOIS FILMES

ATÉ A MORTE - SOBREVIVER É A MELHOR VINGANÇA (Till Death)

Suspense próximo ao terror bem eficiente e inteligente no modo como lida com as resoluções da heroína frente à situação bizarra de estar algemada ao marido morto e ainda enfrentando novos desafios. A princípio, lembrei-me de JOGO PERIGOSO, de Mike Flanagan, mas aqui não há uma preocupação psicológica. O diretor S.K. Dale lida muito bem com a geografia do ambiente (a casa grande e os arredores) e com as cores, enfatizando o branco e o vermelho. Vendo ATÉ A MORTE – SOBREVIVER É A MELHOR VINGANÇA (2021), também lembrei-me de O TERCEIRO TIRO, de Alfred Hitchcock, pela maneira com que o cineasta usa um senso de humor sutil, ao tratar de um cadáver mudando de lugar, e também um pouco do primeiro JOGOS MORTAIS, de James Wan, pelo humor negro. A tensão não deixa o espectador gargalhar (pelo menos não deixou a mim), mas o humor está presente e é bem-vindo. Megan Fox está muito bem, como a mulher que usa a inteligência e a força física para sair de cada obstáculo à sua frente. Infelizmente (ou felizmente, não sei), larguei mão da sessão do filme na sala 1 do Iguatemi por problemas de projeção ruim e resolvi vê-lo em casa mesmo, com as cores vivas e nítidas que a obra merece.

JURASSIC WORLD – DOMÍNIO (Jurassic World – Dominion)

Se os primeiros dois títulos desta segunda trilogia dos dinossauros já haviam ficado no esquecimento, por mais eficientes que fossem na reciclagem do que Spielberg havia feito em 1993 e 1997, este último aqui, JURASSIC WORLD – DOMÍNIO (2022), dirigido por Colin Trevorrow, é lamentável em praticamente todos os aspectos. Mesmo trazendo de volta o trio de atores dos primeiros filmes (Laura Dern, Sam Neill e Jeff Goldblum) para se juntar aos novos personagens, isso só contribui para perceber que os produtores tinham muita coisa boa nas mãos e não souberam fazer nada que servisse. Nem a nostalgia, nem a sensação de perigo nas cenas de ação, nem o maravilhamento com os dinossauros, nem mesmo os efeitos especiais, que parecem os mais desleixados de todos os seis filmes. Até lembrei de produções dos anos 1950 que usaram a técnica da tela ao fundo de maneira muito mais eficiente. Não se trata de ser polícia de efeitos visuais, mas quando há milhões envolvidos, podemos sim reclamar. Em certo momento, durante as lutas para não dormir ao som da trilha sonora pouco inspirada de Michael Giacchino, eu fiquei torcendo para que algum dos sete heróis morresse, para me acordar do torpor que é essa aventura. E nem é spoiler dizer que isso não acontece. Uma coisa de que eu gostei: as cenas de perseguição dos dinos aos personagens de Chris Pratt (na moto) e Bryce Dallas Howard (no carro). Mas é muito pouco.

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