segunda-feira, setembro 28, 2020

AS FACES DO DEMÔNIO (Byeonshin)



O filão de filmes de possessão demoníaca e exorcismos depois do fenômeno O EXORCISTA, de William Friedkin, foi enorme, principalmente nos anos 1970. Até o Mojica fez o seu (excelente) EXORCISMO NEGRO pegando carona na moda. Ultimamente, Hollywood ainda tem feito esse tipo de filme, mas a grande maioria tem se mostrado repetitiva e aborrecida. Além do mais, filmes de horror católicos estão começando a perder a homogeneidade.

Isso muda quando temos a oportunidade de ver um exemplar sul-coreano de filme de exorcismo com padre católico e uma óbvia influência do filme de Friedkin logo no prólogo. O fato de ser asiático ajuda a acentuar um ar exótico. Na sequência introdutória de AS FACES DO DEMÔNIO (2019), de Hong-seon Kim, o padre Joong-soo (Sung-Woo Bae) tenta expulsar o demônio de uma jovem usando todos os rituais aprendidos na Igreja Católica. Porém, o demônio é poderoso, o resultado é desastroso e a menina morre.

Corta para a chegada de uma família (pai, mãe, duas filhas adolescentes e um garotinho) em uma nova casa. Aos poucos, porém, eles começam a ser perturbados por um estranho vizinho. Mas o filme começa a ficar interessante mesmo quando o demônio passa a arquitetar confusões e perturbações na família ao saltar de um corpo para o outro. Seu primeiro ataque é quando ele aparece como o pai e entra no quarto dizendo coisas um tanto impróprias/assustadoras para a garota.

Esse salto do demônio em vários corpos e não apenas em um único hospedeiro faz lembrar POSSUÍDOS, de Gregory Hoblit, pouco lembrado filme de horror noventista estrelado por Denzel Washington. No filme sul-coreano essa mudança de corpos acontece apenas no seio familiar e com resultados muitas vezes surpreendentes, tanto do ponto de vista do plot e dos rumos que se tomam para cada personagem, quanto do grau de violência e gore.

Há uma cena lá pelo terço final que é absolutamente aterrorizante, envolvendo a agressão a uma personagem. E olha que esse terço final é a parte mais problemática, quando o filme precisa chegar a uma conclusão, que é a parte mais difícil de não se cair no lugar comum. Até então, as opções que Hong-seon Kim e sua equipe criativa dão ao filme trazem um frescor muito bom, mesmo quando os efeitos especiais são claramente de produção barata. Ainda assim, como não se surpreender com a sequência do ataque dos pássaros na avenida?

Outro aspecto bem positivo do filme está na interpretação do ator que faz o padre, especialmente quando ele retorna para ajudar sua família a se livrar do mal demoníaco. Sempre bom ver que o cinema sul-coreano continua nos brindando com boas surpresas de vez em quando. 

AS FACES DO DEMÔNIO fez bastante sucesso em seu país natal e talvez não alcance um sucesso ainda mais abrangente por conta da pandemia.

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