sábado, setembro 05, 2020

A VINGANÇA DE KRIEMHILDE (Die Nibelungen - Kriemhilds Rache)

Eita, que este mês de setembro começou mostrando que o sol em Virgem não está pra brincadeira e que o tempo agora parece ser de aumento de trabalho e atividades profissionais. Por isso que acabei passando uns dias sem atualizar o blog. Acredito que quando eu conseguir me livrar de todas as pendências, é possível que eu volte com mais regularidade. Além do mais, considero este espaço como um espaço de trabalho também, embora não seja remunerado. Uma pena que não seja, aliás. Fica aqui a dica para eventuais patrocinadores.

Falemos então de mais um filme de Fritz Lang, da peregrinação que me "obriguei", com muito prazer, a fazer nessas semanas e que ainda demorará um pouquinho para acabar. Finalizei o grande épico de cerca de cinco horas de duração que o cineasta austríaco realizou na Alemanha. Depois da primeira parte, OS NIBELUNGOS - A MORTE DE SIEGFRIED (1924), meses depois estreou nos cinemas europeus a continuação, A VINGANÇA DE KRIEMHILDE (1924), que tem um aspecto bem menos fantasioso, já que o herói super-poderoso havia morrido no final do primeiro filme e a valquíria casada com o rei também não mais aparece, dando espaço a personagens mais humanos e frágeis.

O meu temor de que a personagem Kriemihilde (Margarete Schön) não daria conta de ser tão boa a ponto de dar força à este filme de vingança foi justificado. Tanto que acredito que o filme cresce com a entrada em cena de Átila, o famoso rei dos hunos, como o novo pretendente da princesa. Ela só aceita ser esposa do rei bárbaro pois há uma promessa de que esse homem realizaria todos os seus desejos, e ela já pensava demais em se vingar do assassino de Siegfried, Hagen Tronje.

O que, aliás, é uma bobagem, já que Hagen não é o único assassino. Todo o plano arquitetado foi feito por ordem e aceitação do rei e da rainha, que queriam se livrar do herói supostamente invencível. E por isso Hagen era blindado. Havia também uma espécie de camaradagem, de trato, entre o rei e seu guarda-costas e conselheiro que tornava Hagen quase inalcançável. E o filme mostra também certos valores que até um bárbaro como Átila tinha, já que, uma vez que ele convida alguém, ele seria incapaz de lhe fazer mal, o que muito irrita Kriemhilde.

Vale destacar que Átila é um personagem cuja personificação é tomada de bastante preconceito, já que ele é visto como uma criatura disforme e que se mexe como um orangotango, ainda mais que os demais hunos também vistos como bárbaros, principalmente se comparados com os nibelungos (alemães), todos brancos, limpinhos, de cabelo lambido e um ar até feminino - enquanto Kriemhilde exala um espírito masculino nesta fase vingadora.

Há nesta continuação uso constante de simbolismos (era comum nesta fase silenciosa do diretor e até mesmo no início da fase sonora nos Estados Unidos) e também inspiração em outras artes. O melhor exemplo talvez seja a cena que mostra um grupo de meninos nus com grinaldas em seus cabelos próximos a uma pequena árvore e Átila com sua armadura preta, inspirada em uma gravura de Max Klinger, pintor e escultor simbolista alemão.

A melhor sequência do filme é a final, na qual Kriemhilde, cansada de tentar encontrar pessoas para executar Hagen, pede para que os hunos incendeiem o espaço onde os nibelungos estão instalados. As cenas no interior da fortaleza, do incêndio, lembram uma das cenas finais de A MORTE CANSADA (1921).

Li no livro Fritz Lang, de Otte Eisner, que o trabalho de construção visual feito pelo cineasta em OS NIBELUNGOS influenciou bastante dois épicos históricos de Sergei M. Eisenstein, ALEKSANDR NEVSKY e IVAN, O TERRÍVEL.

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