sexta-feira, agosto 28, 2020

OS NIBELUNGOS - A MORTE DE SIEGFRIED (Die Nibelungen - Siegfried)

Interessante que o título brasileiro já denuncia o destino do herói. Mas, para os alemães, a história dos Nibelungos é tão famosa quanto a história de Jesus. Além do mais, no próprio cartaz original alemão, vemos Siegfried tendo seu corpo perfurado pela lança que porá fim à sua vida. OS NIBELUNGOS - A MORTE DE SIEGFRIED (1924) é a primeira de duas partes da saga dos Nibelungos, uma das histórias mais míticas do folclore alemão. Fritz Lang, depois de ter feito um trabalho fenomenal com DR. MABUSE, O JOGADOR (1922), talvez sua grande obra-prima da fase silenciosa, foi encarregado de mais uma outra produção bem ambiciosa.

Na época que li a graphic novel O Anel do Nibelungo, adaptação da ópera de Richard Wagner por P. Craig Russell, tive bastante vontade de ver estes dois filmes de Lang, que na verdade não têm história nenhuma de anel. Então, não sei o quanto houve de licenças poéticas, ou se Lang se inspirou menos em Wagner e mais na literatura que tenta contar a mitologia da saga. Pelo que li rapidamente a respeito da ópera de Wagner, há diferenças bem significativas, além do fato de a história contada na ópera cobrir um período de tempo muito maior.

De todo modo, há de comum o herói Siegfried, um jovem loiro filho de um rei, mas criado por anões especialistas em forjar espadas e outros materiais. Ele ganha uma espada especialmente feita para ele e se vê empolgado em deixar seu povoado para conhecer o mundo. No meio do caminho, ele encontra um dragão enorme que solta fogo. Ele enfrenta e mata o dragão e um pássaro lhe diz que se ele se banhar no sangue do dragão, ele terá um corpo impenetrável. Durante o banho, uma folha cai de uma árvore em suas costas. Aquela parte do corpo seria sua única parte sensível, o que lembra bastante a lenda grega de Aquiles.

Demorei um pouco a me interessar pela história, mas aos poucos o filme vai nos conquistando, com sequências empolgantes e até mesmo alguns efeitos especiais que impressionam para a época, como a cena em que os anões da caverna do tesouro junto com o anão deformado que lhe introduz o lugar se transformam em pedra. Naquele momento, Siegfried já estava de posse de uma touca que tanto pode torná-lo invisível quanto transformá-lo em quem ele desejar.

Isso faz com que a história de Siegfried se torne tão fascinante e fantasiosa quanto histórias de super-heróis. Essa impressão aumenta ainda mais quando o herói se encarrega de ajudar o rei Gunther de vencer uma valquíria, Brunhild. O rei deseja se casar com ela, mas ela é uma mulher forte, que vive com as amazonas e não tem a menor intenção de ser mulher daquele rei. Só um herói invencível como Siegfried conseguiria vencê-la, mas é o próprio rei que terá que se mostrar hábil de vencê-la em três desafios a ele impostos. Siegfried, invisível, trapaceia para ajudar o rei na disputa. Aliás, curioso isso, já que é uma trapaça, algo não muito nobre para um herói.

Mais à frente, veremos outras situações bem interessantes, até porque Brunhild não se dá por satisfeita, já que não se sente casada, mas uma prisioneira. E ela acaba se transformando em um dos vilões do filme. Até poderiam dizer que isso seria fruto da suposta famosa misoginia de Lang, mas é bom lembrar que quem fez o roteiro foi sua esposa Thea von Harbou, e, muito provavelmente, inspirada na própria história mitológica, essa sim herdeira do machismo de longa data. Esse sentimento se intensifica quando pensamos que são as duas mulheres, principalmente, as responsáveis pela ruína dos dois reis, Siegfried e Gunther. A esposa de Siegfried, Kriemhild, porém, comete erros mais por ingenuidade.

Aliás, fico pensando como será o segundo filme, agora sem Siegfried e com Kriemhild preparando sua vingança. Será ela uma personagem boa o suficiente para segurar um filme inteiro? É ver para saber. Quanto a este filme, há uma coisa no começo que me incomoda, levando em consideração o nazismo ascendente: o fato de o filme ser dedicado ao grande povo alemão. Esses excessos de nacionalismo sempre devem ser vistos com desconfiança, que o diga o novo momento político brasileiro.

+ DOIS FILMES (CURTOS)

BY THE KISS

Um curta de cinco minutos em que vemos uma mulher num beco escuro sendo beijada por várias pessoas. Em vez de conforto, aos poucos, sua expressão é de dor, de desesperança, de tormenta até. Fui olhar a sinopse oficial do filme, exibido em Cannes, e é a seguinte: Os diversos relacionamentos de uma mulher ao longo da vida. E isso fez com que o filme se tornasse ainda mais doloroso e intenso. A música ajuda muito a intensificar, especialmente se ouvindo em um som alto na TV ou som. Direção: Yann Gonzalez. Ano: 2006.

MULHERES DA BOCA

Interessante registro da zona de prostituição da chamada Boca do Lixo, em São Paulo. Há um momento desconfortável, com dramatização, de um cafetão agredindo psicologicamente uma profissional do sexo. Mas talvez o mais interessante mesmo seja o depoimento da dona de um bordel, falando de seu negócio e do quanto necessita tratar bem os clientes. Depois, vemos imagens de um clube noturno de strip-tease com aquele clima disco decadente do início da década de 80. Podia ser melhor.

Nenhum comentário: