segunda-feira, agosto 28, 2017

MARTIN

Como se não bastasse criar todo um conceito que seria seguido por gerações e gerações, que é o conceito dos zumbis como o conhecemos hoje, ocorrido em A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (1968), o gigante George A. Romero ainda procurou reinventar o filme de vampiros com MARTIN (1978), em que somos apresentados a uma versão mais realista de um chupador de sangue que vive durante muitos anos de sangue humano. A diferença aqui é que o jovem de 84 anos e com aparência de adolescente do título, vivido por John Amplas, não se encaixa no estilo gótico dos vampiros anteriormente vistos e nascidos do folclore do leste europeu e popularizados pela literatura e depois pelo cinema.

Martin não dispõe de dentes caninos prontos para abocanhar facilmente os pescoços de suas vítimas, preferencialmente mulheres. Sua metodologia: usa uma injeção para fazer as vítimas dormirem e em seguida corta os pulsos delas para beber-lhes o sangue. Há, no meio disso, uma satisfação sexual, ao despir a vítima e despir-se também. Mais adiante, ele conta que nunca conseguiu fazer sexo com alguém que estivesse acordada.

MARTIN se destaca pela crueza no estilo, pela fotografia sem filtros e também por um conjunto de interpretações amadoras, mas que funcionam bem no intuito de dar à obra um caráter de estranheza que também se percebe em alguns trabalhos de diretores que lidam com não-atores para a construção de sua dramaturgia. Na verdade, não é muito diferente do que já estávamos acostumados a ver em outros filmes de Romero.

Há também uma série de possibilidades que MARTIN oferece ao espectador, como o fato de o garoto ser ou não um vampiro, e de haver um tratamento em relação à sua personalidade que varia da ternura (vinda de sua expressão de quase inocência no olhar) à imagem de alguém digno de ser de fato encarado como um mal a ser extirpado, como crê o primo que o abriga, mesmo contra sua vontade, em sua casa.

O que deixa o espectador um pouco encucado com o filme talvez seja justamente essa estranheza. É um filme de horror que se passa boa parte do tempo durante o dia, e que muito se assemelha a um drama sobre a falta de pertencimento de um jovem na sociedade. Mas não deixa de fazer falta mais cenas de tensão em que Martin se vê preocupado em ser pego quando tenta executar um de seus atos.

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