segunda-feira, setembro 14, 2015

MR. ROBOT – TEMPORADA 1 (Mr. Robot – Season 1)



Dizer que MR. ROBOT (2015) é a melhor série do verão americano é pouco: trata-se da melhor estreia na televisão em 2015, superando, até mesmo, DEMOLIDOR. Isso porque seus dez episódios têm uma unidade impressionante, além de trazerem aquele elemento transgressor que torna o que seria uma obra boa em algo especial. Se há algo que poderia depor contra a série de Sam Esmail, diretor do pouco conhecido COMET (2014), é lembrar demais Clube da Luta (o livro de Chuck Palahniuk e, consequentemente, a adaptação de David Fincher).

Mas Esmail não trata em nenhum momento de esconder sua principal referência. Ao contrário, há várias sequências que não só remetem como também prestam homenagem à controversa obra. A semelhança inicial está no afã de tentar destruir o sistema. A própria organização "terrorista" que o hacker Elliot Alderson (Rami Malek) trabalha nas horas vagas se chama fsociety. Aliás, curioso como a palavra “fuck” é dita, mas é também censurada no áudio e quando escrita também, embora ela esteja lá como forma de rebeldia ao sistema.

Elliot, nosso herói, é avesso a pessoas e viciado em morfina. É isso que diminui a sua tristeza de viver. Em um dos diálogos mais bonitos e ao mesmo tempo mais tristes da série, ele conversa com sua vizinha, Shayla (Frankie Shaw), ao som de "Pictures of You" (The Cure), sobre ele não gostar de ir a shows por causa das pessoas. Por isso prefere ouvir música sozinho, com seus fones de ouvido. Essa conversa só não é um respiro para a trama porque as circunstâncias que a envolvem são bem melancólicas.

O que MR. ROBOT passa principalmente para o espectador é um sentimento de paranoia (já que a série é narrada pelo ponto de vista de Elliot, embora haja alguns momentos que se volte para outros personagens) e de quase perda da sanidade. Exato: por pouco, eu quase piro em determinado momento, não exatamente pelas revelações em si, mas pelo modo como elas são postas. Em determinado momento, por exemplo, Darlene (Carly Chaikin), membro ativo da fsociety, ao contar algo a Elliot, me deixou tão perturbado, que sensação parecida eu só senti em INCÊNDIOS, de Dennis Villeneuve.

Ao contrário de algumas séries que vão conquistando o espectador aos poucos, é logo no piloto que MR. ROBOT pega a audiência de cheio. Tanto que há quem diga que eles não conseguem superar o piloto nos episódios seguintes, algo que eu discordo, até pela forma criativa com que são construídas as narrativas para cada episódio, fazendo-nos lembrar de outra série excepcional: BREAKING BAD.

Inclusive, o hype em torno de MR. ROBOT tem colocado a série em comparação com a cultuada criação de Vince Gilligan, embora ainda seja muito cedo para isso. Só temos uma temporada por hora e sabemos o quanto tantas séries caem de qualidade a partir do segundo ano. Por isso, é bom torcer para que o que vem por aí em 2016 mantenha o alto nível do show.

Com relação à participação bem especial de Christian Slater, trata-se, de fato, do melhor papel dele em anos, mas talvez seja um exagero elogiar tanto assim a sua performance. Ainda assim, há um episódio especial cuja atuação dele se destaca bastante. Até por darem mais espaço a ele. Embora Slater seja o cara que se autodenomina "Mr. Robot" e que convida Elliot para ingressar na fsociety, sua participação é geralmente pequena ao longo da trama principal e das subtramas.

Falando em boas atuações, vale destacar Martin Wallström, que interpreta o executivo psicopata da Evil Corp, em cenas antológicas. Também merecem ser citadas, e com muito carinho, as três moças que rondam a vida de Elliot, as já mencionadas Shayla e Darlene, e também a sua colega de trabalho no seu emprego diurno, Angela (Portia Doubleday), que conhece Elliot desde criança e tem por ele uma atenção especial, embora não saiba de seus segredos.

No mais, outro grande trunfo da série está em não enrolar o espectador, ao entregar aquilo que nós queremos ver acrescido de um bônus. Em um momento em que o capitalismo é visto por muitos como chegando ao fim e que a sociedade como um todo está passando por uma crise violenta, ser simpatizante de grupos como o Anonymous e assemelhados não chega a ser nenhuma novidade. É preciso dar lugar ao novo. E torçamos para que o novo seja algo tão bom quanto MR. ROBOT.

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