sábado, setembro 05, 2015
JIA ZHANG-KE, UM HOMEM DE FENYANG
Excelente a iniciativa dos dois curadores da programação do Cinema do Dragão em fazer de vez em quando um debate após a sessão de determinados filmes. Já ficaram célebres os debates com os realizadores e por isso fiquei especialmente curioso com o debate após a sessão de JIA ZHANG-KE, UM HOMEM DE FENYANG (2014), que não iria contar com a presença ilustre de Walter Salles, mas os dois curadores promoveram uma conversa muito rica e interessante sobre o documentário, sobre as obras de Salles e Jia e também sobre a própria história do Brasil e da China retratada em suas obras.
Para que um cineasta chegue a fazer um filme em homenagem a um colega seu é necessário primeiramente que haja uma profunda admiração. Aconteceu com Wim Wenders duas vezes: com TOKYO GA (que homenageia Yasujiro Ozu) e com UM FILME PARA NICK (que homenageia Nicholas Ray); com Abel Ferrara e seu PASOLINI; com Eugenio Puppo e seu OZUALDO CANDEIAS E O CINEMA; com Tim Burton e ED WOOD; com Martin Scorsese e A INVENÇÃO DE HUGO CABRET (que homenageia Georges Méliès). JIA ZHANG-KE, UM HOMEM DE FENYANG é um filme dessa linha.
Trata-se primeiramente de um filme sobre o referido cineasta chinês, feito com muito carinho por alguém que veio dos documentários antes de se aventurar e de se tornar mundialmente famoso através da ficção. Walter Salles sequer aparece no documentário, dando voz apenas a Jia e seus colaboradores e sua história de vida, que falam das locações que serviram de cenário para algumas das obras mais importantes, da dificuldade e também da sua necessidade de fazer cinema num país fechado como a China.
O que diferencia o documentário de Salles de um extra de DVD – já que há também um passeio pelos principais filmes do realizador – é que há espaço para um retrato para íntimo do homem Jia Zhang-ke, não apenas do cineasta. Assim, ficamos sabendo de detalhes da sua vida, como o quanto um fato ocorrido em 2006 ainda o deixa extremamente comovido.
Ao vermos trechos de filmes como XIAO WU (1997), PLATAFORMA (2000), PRAZERES DESCONHECIDOS (2002), O MUNDO (2004), EM BUSCA DA VIDA (2006), 24 CITY (2008) e UM TOQUE DE PECADO (2013), observamos o interesse do cineasta no ser humano enfrentando as dificuldades de estar em um universo em constante transformação, e nisso ele parece ser crítico tanto da situação política nascida da Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung, quanto da globalização recente.
Quanto à aproximação dos dois cineastas, muito disso se dá tanto devido ao fato de ambos fazerem também documentários, quanto em serem particularmente preocupados com a história recente de seus países. Como não lembrar de TERRA ESTRANGEIRA (1996), que tratou do impacto da Era Collor na sociedade brasileira? E de filmes que adentram o Brasil profundo, como CENTRAL DO BRASIL (1998) e ABRIL DESPEDAÇADO (2001)? O distanciamento se dá ao fato de Salles ter feito filmes no exterior também, mas sempre interessado no aspecto humano dentro de um contexto histórico, ou pelo menos dentro de uma história, caso do renegado ÁGUA NEGRA (2005).
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