quinta-feira, julho 17, 2014

O MELHOR LANCE (The Best Offer / La Migliore Offerta)



CINEMA PARADISO (1988) pode ser o filme mais famoso de Giuseppe Tornatore, mas alguns de seus melhores trabalhos apostam na tensão e no suspense. Foi o caso de UMA SIMPLES FORMALIDADE (1994) e de A DESCONHECIDA (2006). E é também o caso desta bela surpresa que é O MELHOR LANCE (2013), produção italiana, mas falada em inglês, como que para espantar um pouco esse fantasma da má fase do cinema italiano. Assim, quando menos se espera, eis que temos uma produção italiana de grande beleza e extremamente intrigante.

No começo, quando o filme apresenta o personagem Virgil Oldman, vivido brilhantemente por Geoffrey Rush, até dá para imaginar que O MELHOR LANCE é apenas um filme chato sobre a personalidade excêntrica de um colecionador de arte e leiloeiro de antiguidades e obras de arte. Trata-se de um homem antissocial e pouco simpático, que nunca teve um relacionamento físico com uma mulher e que coleciona dezenas de quadros valiosos em sua casa. Os conhecedores de pinturas certamente vão se emocionar ao ver tantas obras famosas juntas.

Sua vida muda quando uma mulher misteriosa liga para ele oferecendo-lhe a oportunidade de avaliar uma vasta coleção de arte e antiguidades. Trata-se de uma mulher difícil de ver, já que ela sofre de agorafobia, não saindo de dentro de seu próprio quarto. E exatamente por ser uma pessoa tão pouco acessível que esta mulher, Claire (a bela holandesa Sylvia Hoeks), acaba lhe despertando não só a curiosidade, mas um sentimento que até então ele não conhecia.

Paralelamente, dentro da casa ele encontra pedaços de engrenagem que ele supõe serem muito importantes. O jovem Robert (Jim Sturgess) é hábil na arte de reconstruir objetos e engenhocas e é ele quem o ajuda a montar o que ele acredita ser aquele mesmo autômato visto em A INVENÇÃO DE HUGO CABRET, de Martin Scorsese. E se Scorsese presta tributo ao cinema de maneira mais explícita, Tornatore o faz ao trafegar de maneira genial pelo suspense hitchcockiano, como já havia feito em A DESCONHECIDA.

Aqui ele tem o apoio de outro mestre, Ennio Morricone, numa trilha sonora que convida o espectador a entrar com prazer naquela atmosfera de suspense e de situações inesperadas, principalmente quando nos identificamos com a obsessão do protagonista por aquela mulher. Tanto é que sofremos tanto quanto ele a cada visita à mansão de Claire, temendo a possibilidade de ela não estar mais lá ou novamente agir de maneira irracional, como é de seu feitio.

E quando conhecemos finalmente as feições de Claire e vemos o quanto ela é linda fisicamente, esse fascínio só tende a aumentar, embora suspeitemos o tempo inteiro que tudo pode ser fugaz, uma mera ilusão, possibilidade sugerida pelo personagem de Donald Sutherland, que diz para o amigo que até o amor pode ser simulado.

Há momentos de uma beleza visual impressionante, como a cena da chuva, ou as cenas de aproximação física de Virgil a seu objeto de desejo, que parece para ele, e para nós, cúmplices e solidários, como uma espécie de porcelana frágil e extremamente valiosa.

É Tornatore em plena forma em um de seus melhores trabalhos. Aqui ele retoma tanto o tema do sofrimento do herói, como em MALENA (2000), como a questão da ilusão, como em O HOMEM DAS ESTRELAS (1995). É um trabalho que brilha por si e ajuda também a valorizar o conjunto da obra deste homem apaixonado por cinema e que nos ajuda a sentir também essa paixão. Nem que seja com um coração partido.

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