quarta-feira, abril 09, 2014

ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA (Bir Zamanlar Anadolu'da)























Ao ver a grandiosidade dos planos gerais de ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA (2011) fica difícil não ficar imaginando como seria a experiência e a honra de ver este maravilhoso longa-metragem de Nuri Bilge Ceylan no cinema. Infelizmente, ao que parece, os únicos brasileiros que tiveram essa chance foram aqueles que o conferiram CineSesc, em São Paulo. De vez em quando o lugar é palco para obras grandiosas e exclusivas desse porte.

Nunca vi nenhum dos filmes de Ceylan. Tanto pelo fato de seus filmes não chegarem ao circuito comercial (local, pelo menos), quanto por serem, tanto CLIMAS (2006) quanto 3 MACACOS (2008), trabalhos que não tiveram tanta aceitação por parte da crítica, que em geral achava seus trabalhos ultraestilizados ou afetados. Porém, creio que depois de ERA UMA VEZ EM ANATÓLIA, vale uma conferida na obra anterior do cineasta turco.

Este seu filme mais reconhecido, com seus longos e saborosos 150 minutos de duração, apresenta uma narrativa lenta e carregada de um clima de inquietação espiritual e de morte que o torna impressionantemente atraente. A maior parte de sua metragem envolve um grupo de policiais à procura de um cadáver. Para ajudá-los, um dos homens responsáveis pelo assassinato. O corpo está enterrado em algum lugar da zona rural da cidade de Keskin. A propósito, o lugar é lindamente fotografado em scope e cada tomada externa parece uma pintura.

A busca pelo cadáver não é fácil. O assassino de rosto anguloso pode estar enrolando a polícia, como pode estar, como ele mesmo diz, confuso com relação ao local em que o corpo foi enterrado. Enquanto isso, tanto o médico legista, quanto o promotor e o próprio homicida ganham momentos de pausa e conversa que fazem o filme respirar muito bem. São momentos tão bons quanto a busca pelo cadáver.

Há um momento especialmente interessante, que é quando todos os homens são hospedados na casa de um amigo em comum de um deles e ficam impressionados com a beleza de uma linda jovem, até então a única mulher a aparecer em todo o filme. Ela é como uma joia escondida da civilização.

Pelas poucas críticas que li a respeito de ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA, o filme tem a intenção de ser uma metáfora da própria Turquia, dirigindo no escuro e com dificuldades de desenterrar o seu próprio passado e de caminhar para o sonhado futuro, em que o país se tornaria tão moderno quanto os seus irmãos mais desenvolvidos da Europa. Mas para isso ainda precisam lutar contra as próprias superstições e a falta de habilidade profissional, representado principalmente pelos atrapalhados policiais. Mas o filme é muito mais do que isso. Trata-se de uma das obras-primas desta década e que certamente merece ser revisto, repensado, saboreado diversas vezes.

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