quinta-feira, abril 17, 2014

DIVERGENTE (Divergent)























Impressionante o quanto ainda temos jovens leitores, entusiasmados, neste país que passa a impressão de que ninguém lê mais livros. Tudo bem que não se tratam de leitores de clássicos ou de grandes autores, mas muito provavelmente poderão ser. Sabemos que eles são exceção e também sabemos que são jovens que defendem com unhas e dentes suas adoradas obras – nada mais justo –, e que tendem a se entusiasmar com as adaptações para cinema.

No caso da trilogia (de novo, uma trilogia) de Veronica Roth, trata-se de um caso semelhante ao da série Crepúsculo, isto é, mais dirigida a meninas do que a meninos. Não por acaso são as meninas as mais entusiasmadas, as que soltam gritos de "gato!", "gostoso!", "beija logo!" etc. O que é curioso para um filme que aparentemente tem uma história semelhante à de outra série que virou livro: Jogos Vorazes.

Ambos mostram um futuro distópico; ambos trazem uma espécie de salvadora para um mundo com problemas sociais graves; ambos fazem um elogio à desobediência civil. O mundo de DIVERGENTE (2014) é apresentado de maneira muito rápida logo no início do filme com uma voice-over: trata-se de uma sociedade (no caso, a cidade de Chicago) dividida em cinco facções: Abnegação, Franqueza, Erudição, Audácia e Amizade.

Os mais jovens quando chegam a uma certa idade fazem um teste para saber em qual facção se encaixam e também têm o direito de escolher entre ficar com a família ou partir para outra facção. É o caso de Tris (Shailene Woodley), que cresceu na Abnegação, não podendo olhar para si mesma no espelho por muito segundos para não exercitar a vaidade e devendo cultivar a bondade e o amor ao próximo. Seria o mais próximo de grupos cristãos daquele universo.

Várias questões ficam sem resposta, apenas temos que aceitar as regras do jogo, como o fato de não poder haver uma pessoa que não se encaixe em nenhuma das facções, os chamados Divergentes. Tris é uma delas e sabe que deve permanecer calada para não ser assassinada pela facção da Erudição, que planeja não só matar essas pessoas, como derrubar a Abnegação, que tem ajudado os sem-facção, que vivem como mendigos naquele mundo.

Depois que Tris resolve entrar no grupo da Audácia, que é o que mais exige desenvoltura física e porte atlético, o filme se parece ainda mais com JOGOS VORAZES e sua continuação, JOGOS VORAZES – EM CHAMAS. Quer dizer, boa parte de sua metragem é dedicada ao treinamento intensivo desse grupo e também ao romance que se estabelece entre Tris e o atencioso Four (Theo James).

Um dos problemas no filme está em exagerar os tons de bem e mal e isso prejudica inclusive o clímax, no momento em que os heróis enfrentam a vilã, vivida por Kate Winslet. O fato é que, diante de uma franquia que se sofisticou tanto em texto e em dramaticidade como JOGOS VORAZES, e que ainda por cima tem uma atriz tão carismática quanto Jennifer Lawrence, DIVERGENTE parece um primo pobre.

De todo modo, com o sucesso comercial desse primeiro filme, as próximas três continuações já estão garantidos até 2017, saindo da cadeira de diretor Neil Burger (O ILUSIONISTA, 2006) e entrando Robert Schwentke (TE AMAREI PARA SEMPRE, para citar o seu melhor trabalho).

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