quinta-feira, janeiro 29, 2009

DOWNHILL























1927 foi o ano mais produtivo de Alfred Hitchcock. Pelo menos em quantidade de filmes, já que ele concluiu simplesmente quatro filmes apenas nesse ano. Depois de O INQUILINO SINISTRO (1926), o primeiro filme verdadeiramente "de Hitchcock", o mestre do suspense voltou a trabalhar novamente com o mesmo astro do trabalho anterior: Ivor Novello. Se DOWNHILL (1927) não tem o mesmo vigor narrativo de sua obra de estreia (THE PLEASURE GARDEN, 1925), compará-lo com O INQUILINO SINISTRO, então, é até covardia.

Se bem que é possível ver em DOWNHILL muito da sofisticação visual do anterior, além de uma tentativa de utilizar o mínimo de intertítulos possível para contar a história de um jovem estudante que é expulso de um colégio classe A, acusado de um furto que não cometeu. Olha aí o velho tema do homem inocente acusado de um crime, tema-chave de boa parte dos trabalhos de Hitchcock. Mas, ao contrário do que possa parecer, DOWNHILL não é um suspense, mas um drama sobre um rapaz que chega ao fundo do poço por motivos nobres, por generosidade e lealdade. A figura de alguém inocente vivendo num mundo perverso já se fazia presente em THE PLEASURE GARDEN. Talvez Hitchcock, ele mesmo bastante ingênuo, gostasse desses personagens inocentes, como um espelho de si mesmo. Depois é que o cineasta nos faria cúmplices de ladrões e assassinos, quando deixou aflorar o seu lado mais sombrio.

DOWNHILL sofre inicialmente de uma narrativa confusa, além de pouco animadora. O que acaba saltando aos olhos sãos os efeitos visuais sofisticados, como a sobreposição de imagens, que em alguns momentos me fez lembrar LIMITE, de Mário Peixoto. Há uma cena, em especial, que me chamou bastante a atenção: acontece quando, numa boate em Paris, uma mulher de idade mais avançada que o rapaz tenta seduzi-lo. Essa mulher, de alguma maneira, me causou certo medo. Senti-me um pouco num filme de David Lynch. Tinha algo de estranho no rosto dessa mulher e a cena ganha uma atmosfera de pesadelo, que se fosse sentida durante todo o filme, DOWNHILL seria uma obra-prima. Infelizmente o filme é um desses dramas carregados nas tintas sobre sofrimento e redenção, tão quadrado que, mesmo tendo curta duração, fica parecendo um cansativo filme de três horas.

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