segunda-feira, outubro 13, 2008
CANÇÕES DE AMOR (Les Chansons d'Amour)
Enquanto o cinema americano, que tem uma tradição muito maior no gênero musical, está decrépito, em franco declínio (por mais que algumas pessoas ainda curtam musicais à moda antiga como CHICAGO, SWEENEY TODD: O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET e DREAMGIRLS – EM BUSCA DA FAMA), na Europa, tem-se notado uma renovação no gênero, que vem utilizando canções pop, bem mais agradáveis aos ouvidos do público atual, como foi o caso do irlandês APENAS UMA VEZ e desse belíssimo filme de Christophe Honoré. O trabalho anterior de Honoré, EM PARIS (2006), já havia terminado com os personagens cantando. Em CANÇÕES DE AMOR (2007), Honoré assume de vez o musical e o resultado é esplêndido. Cantadas pelo próprio elenco, as canções são maravilhosas, cheias de genuino sentimento, tão belas que dá vontade de fazer o download da trilha sonora.
O roteiro foi escrito por Honoré a partir das canções já existentes, escritas pelo amigo Alex Beaupain, que as compôs em homenagem à sua namorada que morreu. E sim, eu já entreguei com essa última frase que, por mais que o filme comece alegre e cheio de vida, acontece uma tragédia envolvendo um dos personagens logo no final do primeiro ato. CANÇÕES DE AMOR é dividido em três atos entitulados: "A Partida", "A Ausência" e "O Recomeço". Ainda sobre o compositor das músicas, vale destacar que Beaupain é colaborador de Honoré desde seu primeiro longa-metragem – 17 FOIS CÉCILE CASSARD (2002), inédito no Brasil.
O filme inicialmente acompanha a rotina extravagante de um relacionamento a três, um assumido ménage à trois entre um rapaz (Louis Garrel) e duas jovens moças bonitas (Ludivine Sagnier e Clothilde Hesme, de AMANTES CONSTANTES). A relação vai transcorrendo normalmente, embora haja de vez em quando sentimentos de ciúme da parte dos três. Até que um dia um dos três morre e o filme vai se tornando um musical trágico. Depois dessa surpreendente guinada, o protagonista sofre com a ausência da pessoa amada, e o filme passa para o espectador até mesmo aquele sentimento de negação que normalmente acontece com mortes inesperadas. O personagem de Louis Garrel passa a lidar com a perda da pessoa amada de maneira estranha, tentando se esquivar, sempre que possível, da família dela. Inclusive, na família, há a irmã da personagem de Ludivine Sagnier, interpretada por Chiara Mastroianni.
Outro personagem de destaque e que passa a ser de fundamental importância para a estória a partir do segundo ato é o homossexual persistente vivido por Grégoire Leprince-Ringuet. A presença do personagem e o final do filme podem causar certo desconforto para o público hetero, já que o filme vai se tornando mais gay. Ainda assim, apesar de não ter ficado satisfeito com os rumos do personagem de maior identificação do filme, deve-se dar o devido crédito à coragem de Honoré em fazer um trabalho sempre ousado e cheio de surpresas, sem abrir mão das já costumeiras homenagens à Nouvelle Vague – a figura do casal na cama lendo livros - eternizado por DOMICÍLIO CONJUGAL, de Truffaut - aparece divertidamente no início do filme, com os três namorados lendo livros na cama.
Legal que pelo andar da carruagem, Honoré vai se tornar o cineasta cuja obra descobrirei num intervalo de tempo relâmpago. Ao final do ano, devo ter visto pelo menos quatro filmes do diretor. Seu novo trabalho, LA BELLE PERSONNE (2008), será exibido no Festival Varilux de Cinema Francês desse ano. Além do mais, consegui com um amigo uma cópia em DVD de MA MÈRE (2004). E se tomar gosto mesmo, de repente eu até procuro trabalhos inéditos dele na internet.
P.S.: Vi o filme em cópia digital e agora me veio à cabeça a dúvida: essas cópias digitais têm quantos Gigas de tamanho? Teriam uma capacidade maior que a de um disco de blu-ray? Se é assim, por que a imagem não fica tão boa, fica escura? Aparelhagem ruim? Má configuração?
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