quarta-feira, setembro 24, 2008

O VOYEUR / O HOMEM QUE OLHA (L'Uomo che Guarda)



Não estava na minha lista de prioridades rever O VOYEUR (1994), de Tinto Brass, por esses dias, mas tem dias que a gente sente necessidade de procurar alguns estímulos, mesmo que sejam de natureza menos elevada. Ou mais elevada, se você pensar no aspecto físico da coisa. Tenho O VOYEUR como uma das melhores obras de Brass. E por isso não resisti ao ver a bela e chamativa capa do DVD promocional exposto nas Lojas Americanas, trazendo a voluptuosa Katarina Vasilissa à janela, com o traseiro arrebitado e um sorriso provocante. Katarina deixou o seu país natal, a Polônia, com o objetivo de trabalhar na indústria pornográfica italiana. Se ela conseguiu isso, não sei, não consta no IMDB. O que sabemos é que a moça caiu nas graças de Tinto Brass que a transformou em uma espécie de anjo do pecado num de seus filmes mais explícitos. Aliás, quanto a isso, uma pena que a versão nacional do DVD seja uma versão com cortes, o mesmo acontecendo com a versão de INSTINTO SELVAGEM, de Paul Verhoeven, que não contém as cenas mais picantes adicionadas no VHS, que trazia cenas extras em relação à versão exibida nos cinemas.

Na época da realização de O VOYEUR, a indústria pornográfica estava passando por uma boa fase, ainda que muitos considerem-na uma fase de decadência, já que os filmes pornôs mudaram da tela de cinema para a telinha dos lares, dando uma maior privacidade para o espectador. E nesse momento de transição, Brass precisava ser também mais apelativo, mostrar que podia, sem necessariamente se utilizar do sexo explícito, aumentar a voltagem erótica de seus filmes, tornar as estórias menos importantes, mais simples, já que quando a cabeça de baixo "pensa" mais que a de cima o raciocínio fica um pouco confuso. Lembro que na época, cheguei a ver um filme pornô do John Leslie que tinha uma trama um pouco complexa (ou vai ver não fazia sentido mesmo) e eu não consegui entender quase nada. O filme se chamava DOG WALKER e era um dos bons exemplos da ótima safra daquela época. Se por um lado, a sinalização do fim do cinema pornô como arte estava próxima, aqueles últimos momentos, em que alguns diretores filmavam direto em vídeo e alguns em 16 mm, foram uma época muito boa para o mais marginal dos gêneros. Mas nem devia estar falando tanto do pornô. Voltemos o foco ao erotismo sofcore de Tinto Brass.

Em O VOYEUR - que nos cinemas passou com o título de O HOMEM QUE OLHA, mais fiel ao título italiano -, vemos Dodo, um jovem professor sofrendo de depressão por causa da partida de sua esposa gostosa – a já citada loira Katarina Vassilissa. Ele sonha com ela o tempo todo. Os sonhos se misturam com as memórias, em seqüências que emulam muito bem o estado onírico. Entre os sonhos, há os encontros fortuitos em lugares públicos que a sua ex-esposa sugere, como o restaurante ou o cinema, e há também uma cena em que uma de suas alunas o convida para ir até sua casa. Paralelamente, Dodo se sente atraído pela enfermeira safada que cuida de seu pai. Ela, além de tratar da saúde do velho, ainda lhe presta alguns "servicinhos extras" para o homem convalescente, que apesar da idade, se sente muito mais tarado do que quando jovem. A enfermeira passa o filme todo usando um micro-short e os seios à mostra, com o objetivo de provocar o filho do seu paciente. No mais, temas recorrentes da filmografia de Brass, como o uso dos espelhos em cenas eróticas, das roupas transparentes e do sexo ou atos obscenos em ambientes públicos, estão todos lá. Na cena em que Dodo e sua amada estão no cinema, vemos uma cena crucial de A CHAVE (1983), um dos filmes mais importantes da filmografia do diretor.

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