sábado, fevereiro 09, 2008

SWEENEY TODD: O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street)



Precisei me preparar psicologicamente pra ver um filme cheio de cantorias dirigido por um cineasta cujos últimos trabalhos não me agradaram de verdade. O último filme de Tim Burton que eu realmente gostei foi PLANETA DOS MACACOS (2001) e lá se vão seis, sete anos. Mas voltando ao fator musical, acho que é necessário um preparo ou pelo menos uma informação da parte do espectador de que SWEENEY TODD: O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET (2007) é um musical, para que ele não se sinta enganado. E pelo que eu tenho notado, na forma como o filme anda sendo vendido, ninguém avisa no trailer, por exemplo, que os atores cantam em cerca de 90% do filme. Lembro de um colega de lista de discussão que contou que alugou desprevenido 8 MULHERES, de François Ozon, e, quando percebeu que se tratava de um musical, teve vontade de jogar o chinelo na televisão. Por outro lado, acho saudável filmes com propostas diferentes sendo exibidos no circuito comercial, ainda que seja normal ouvir da parte de alguns frases como "quero meu dinheiro de volta" - como eu ouvi hoje, ao sair da sessão de CLOVERFIELD, filme que deixarei pra comentar em outra ocasião. É bom saber que existe, vez ou outra, uma tentativa, mesmo dentro de Hollywood, de fugir do lugar comum, de tentar algo diferente.

E quem busca algo diferente pode até gostar do novo trabalho de Tim Burton, ainda que esse gostar seja de maneira mais racional do que emocional. Na verdade, desde 1994, quando o cineasta realizou ED WOOD, que Burton não pega a platéia pelo coração. Sua energia é levada mais para a direção de arte, para a fotografia, para a sua obsessão pelo estilo gótico. E para um universo fantasioso, bem longe do realismo. Ver um filme de Burton é entrar em outro universo, com tonalidades e cores diferentes das que a gente está familiarizado. Em SWEENEY TODD, ele se alia novamente ao seu parceiro Johnny Depp e a sua esposa Helena Bonham Carter para compor a estória do barbeiro que volta para se vingar de um homem que lhe tomou sua liberdade, sua mulher e sua filha. Esse homem é um juiz de direito, interpretado por Alan Rickman, um dos que menos cantam no filme. O filme foi baseado numa bem sucedida peça da Broadway, concebida por Stephen Sondheim e Hugh Wheeler. Quer dizer, dessa vez, Burton foi obrigado a abrir mão de sua parceria com o músico Danny Elfman.

Na trama, Depp retorna para Londres com um único objetivo: matar o homem que o encarceirou. Ao chegar na casa onde ele costumava morar com sua esposa e sua filhinha, ainda bebê, quinze anos atrás, ele vê que o lugar agora é habitado, no andar térreo, por uma padaria decadente e suja administrada apenas por uma mulher (Bonham Carter) e um monte de baratas, que ficam passeando pelas tortas que ela prepara. Sozinha no mundo, ela vê na figura daquele estranho um meio de arranjar um marido. Por isso, ela o apóia em seus planos de matar o juiz e ainda tem a idéia de rechear suas tortas com a carne das vítimas do barbeiro. Enquanto isso, o rapaz que chega a Londres no mesmo barco que o personagem de Depp, se apaixona por sua filha, agora uma adolescente bela e triste, que passa os dias trancada dentro de seu quarto, olhando o mundo pela janela, impossibilitada de sair. A intenção do juiz é desposar a garota, num ato quase incestuoso, sem falar no fato de que a menina o odeia.

Assim, a estória transcorre, de maneira até que bastante fluída, mas sem muitas emoções. Há quem se espante com as cenas da navalha cortando os pescoços das vítimas de Sweeney Todd e fazendo espirrar sangue pra todo lado, mas quem já está acostumado com filmes sangrentos vai encarar essas cenas com naturalidade. Ainda assim, fico imaginando o dia em que o filme passar na tv aberta, até porque seria praticamente inútil dublar as poucas partes faladas. Nesse sentido, SWEENEY TODD seria o OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR do cinema americano. O ideal seria que as canções fossem boas, como em alguns musicais de antigamente, mas infelizmente não é o caso das canções do filme, que somente servem como eixo narrativo para a trama. E é por causa da falta de grandes canções nessas peças musicais que esse gênero, provavelmente herdeiro da ópera italiana, ainda seja recebido com resistência pelas novas platéias - eu incluso. Enquanto as canções não emocionam, Burton nos entretém com sua paleta de cores e com uma imagem final que parece saída de uma pintura gótica.

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