quarta-feira, outubro 31, 2007

O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (The Man who Knew Too Much)



Tudo indica que está na hora de eu voltar a ver Hitchcock. Tudo começou quinta-feira passada quando a Bia (Beatriz Saldanha) ligou pra mim me convidando pra participar com ela de um debate num programa na TV União. Pra quem não é do estado, a TV União é uma emissora local que começou exibindo apenas videoclipes, tem uma proposta de falar ao público jovem e agora está ampliando mais os seus horizontes. E como a MTV praticamente parou de passar clipes, a grande pedida pra quem quer ver os clipes por aqui é a TV União. Pois bem. O tal convite seria para um debate sobre Alfred Hitchcock, num programa para homenageá-lo. No começo eu disse 'não', achei que não teria condições emocionais de falar em frente às câmeras, mas pensei melhor e aceitei participar. Dei uma geral nos textos que havia escrito para o blog sobre os filmes do Hitch para ir lembrando de alguma coisa e mandei ver. E graças a Deus tudo correu bem.

Mediado pelo Rodrigo Vargas, sujeito muito gente-fina, participou também do bate-papo, além da Bia e eu, a Socorro Araújo, uma cinéfila apaixonada pelo Hitchcock. Ela ficou conhecida por gerenciar durante um bom tempo os cinemas do Shopping Benfica. O programa teve uma hora de duração, contando os intervalos, e eles passaram trechos de um documentário sobre o diretor e uma cena de OS PÁSSAROS (1963). Pena que menos de uma hora é pouco pra se conversar sobre o maior de todos os cineastas. Quando terminou, pareceu final de entrevista boa do programa do Jô Soares, com todo mundo dizendo "aaahh". Bom, nós que estávamos lá gostamos, não sei é se os espectadores gostaram e se por acaso alguém que não conhece o trabalho do diretor passou a ficar interessado a partir do programa. Nunca se sabe. De todo modo, já registro aqui o meu agradecimento à Bia pelo convite.

Nesse final de semana, aproveitando que ia passar mesmo um bom tempo pensando em Hitchcock, aproveitei pra ver em dvd a primeira versão de O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (1934), que comprei por menos de dez pilas num balaio nas Americanas dias atrás. Tinha tido a chance de ver em vhs, mas como não era nem muito fã da versão americana (1956), que diziam ser melhor, resolvi "pular". E só agora vi essa primeira versão, que apesar de não ter a mesma sofisticação, a mesma segurança de um filme dirigido por um cineasta amadurecido, é mais compacta, mais ágil. A cena da tentativa de assassinato que se passa num concerto de música erudita também aparece na versão inglesa, mas o clímax de verdade acontece no final, com um tiroteio entre polícia e bandidos. Ficou parecendo mais um filme policial ou um western moderno. O grande destaque do filme acaba sendo a performance como vilão de Peter Lorre, ator que já havia dado um show pouco tempo atrás na obra-prima M., O VAMPIRO DE DÜSSELDORF, de Fritz Lang.

Interessante que na entrevista que Hitchcock deu para Peter Bogdanovich, quando perguntado sobre o significado da cena do suéter que se desfia, ele respondeu que pretendia mostrar o fio da vida que se rompe. Poético, hein. Outra curiosidade diz respeito ao fato de o filme mostrar policiais armados, já que na Inglaterra, a polícia não usa (ou não usava, pelo menos) armas de fogo. No final, o censor acabou cedendo e aceitando a cena, já que Hitchcock fez uma pequena concessão: os policiais poderiam usar os fuzis, contanto que fossem armas velhas, conseguidas numa loja de antigüidades. No livro de entrevistas de Truffaut, a conversa sobre o filme se estende muito mais e termina com a conhecida frase de Hitchcock, comparando as duas versões: "Digamos que a primeira versão foi feita por um amador de talento, ao passo que a segunda foi feita por um profissional."

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