segunda-feira, outubro 01, 2007

AUDAZES E MALDITOS (Sergeant Rutledge)



E aproxima-se da etapa final a minha peregrinação pela obra de John Ford. Chegamos na década de 60, na fase tardia da filmografia do "Homero americano". AUDAZES E MALDITOS (1960), eu já tinha visto há um tempão na Band, mas como havia guardado uma boa impressão, queria muito rever. Por isso, consegui baixar uma cópia de um dvd espanhol. O único porém foram as irritantes legendas em espanhol que atrapalham pra caramba a apreciação do filme, mas que têm a sua utilidade. É a tal coisa: ruim com elas, pior sem elas. O filme tem um estilo único: é, ao mesmo tempo, um western, um thriller, um film noir e um drama de tribunal. Eu gosto bastante da primeira parte, o da primeira narração de Constance Towers - que já havia trabalhado com Ford em MARCHA DE HERÓIS (1959). Nessa primeira parte, Ford explora muito bem o mistério - a chegada da personagem de Constance numa estação ferroviária, o vento forte que uiva, o encontro com o "sargento negro" (Woody Strode) e o mistério da morte de uma jovem moça, cujo corpo é encontrado nu e com marcas no pescoço.

No tribunal, ficamos sabendo que o Sargento Rutledge, o personagem de Strode, é o principal suspeito pela morte de duas pessoas. Ele é visto saindo da cena do crime com um ferimento de bala no abdômen. Seu advogado de defesa é o seu superior (Jeffrey Hunter). O recurso dos flashbacks é interessante: sempre que a testemunha começa a dar o seu depoimento, vemos as luzes se apagando lentamente. Apesar de os flashbacks serem contados por diferentes testemunhas, em nenhum momento elas faltam com a verdade e a narrativa de cada uma funciona de uma maneira quase que inteiramente linear. Os costumeiros tipos engraçados de Ford aparecem: a velhinha, mulher do juiz, o próprio juiz e seu assistente. Os dois gostam bastante de uma boa bebida alcóolica. Aliás, impressionante como Ford adora fazer piada com bebida. Em seus filmes, o álcool é visto até como uma bebida milagrosa, sendo usada no tratamento de doenças graves - como visto em ASAS DE ÁGUIA (1957).

AUDAZES E MALDITOS, além de ser um triunfo estético-narrativo, é uma homenagem aos "soldados Buffalo", soldados negros da cavalaria que eram anteriormente escravos. O posto mais alto que eles conseguiam chegar era o de primeiro sargento. Sente-se durante todo o filme a preocupação de Ford com relação ao racismo, que na década de 60 era um problema grave, especialmente no sul do Estados Unidos. O claro e escuro é também visto no contraste entre os interiores escuros e a forte claridade dos exteriores. Um pouco como Anthony Mann costumava fazer nos seus westerns da década de 50.

P.S.: Recebi um exemplar de cortesia do livro "Anthony Steffen - A saga do brasileiro que se tornou astro do bangue-bangue à italiana", dos talentosos Daniel Camargo, Fábio Vellozo & Rodrigo Pereira, lançado pela Matrix Editora. O livro é fundamental não somente para os interessados na vida e obra desse ator, mas também pelo rico painel histórico daquela época em que os italianos ousaram fazer westerns à sua maneira. Agora, com certeza, vou vasculhar as locadoras em busca dos principais títulos estrelados por Steffen. :-) Agradecimentos especiais ao Rodrigo Pereira.

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