domingo, agosto 05, 2007

CÃO SEM DONO



O que dizer de CÃO SEM DONO (2007) que consiga expressar o quanto o filme mexeu comigo? Nessas horas, eu quase me sinto como Ciro, o personagem de Júlio Andrade, que, em determinada cena, deitado com os braços em volta do pescoço de Marcela (Tainá Müller), uma deusa iluminada que pousou em sua vida, não consegue ir além do material, da carne, quando ela pede a ele que lhe faça uma poesia. A emoção é um dos principais motivos de minha aproximação com o cinema e quase sempre vejo os filmes por esse viés, mas nem sempre consigo traduzir esse sentimento em palavras.

Cheguei ao cinema não muito bem. Estava com um aperto no peito, uma espécie de aflição. Mas aos poucos fui me acalmando, esquecendo de mim e me concentrando no drama daqueles dois personagens: Ciro e Marcela. Se bem que é costume a gente se identificar com o protagonista, especialmente quando tem uma moça tão linda na jogada. A gente meio que sonha ter a mesma sorte que ele e acaba se colocando em seu lugar, gozando as alegrias e sofrendo as tristezas. E foi mais ou menos isso que aconteceu comigo. E o mais interessante de tudo é que CÃO SEM DONO foi realizado num registro quase bressoniano, sem uso de música para forçar a emoção e com cenas curtas e objetivas. Impressionante a sensibilidade com que Brant e seu parceiro, Renato Ciasca, juntam o texto e a interpretação dos atores para construir essa história de amor e de encontro com a vida, no que ela tem de melhor e de pior.

Até poderia falar das ótimas cenas de sexo e de quanto Tainá Müller é um espetáculo de mulher, mas a gente meio que transcende o corpo quando chega no final do filme. Como se tivéssemos entrado em contato com algo mais importante que o sexo. Se em CRIME DELICADO (2006), Brant parecia ainda estar experimentando novos caminhos, em CÃO SEM DONO, ele parece ter encontrado o caminho. Pode não ser um caminho que vá ser repetido em novas obras, mas eu me sinto muito grato e muito feliz por ter "vivenciado" esses oitenta minutos de grande cinema. Uma pena que o filme acaba tão rápido. Saí do cinema ainda um pouco triste, mas completamente satisfeito. Dei uma volta rapidamente pelos bares e boates ao redor do Dragão do Mar, pensei em tomar uma cerveja e ficar olhando para as pessoas ao redor, mas me senti tão por fora daquilo ali que resolvi voltar logo pra casa, ouvindo Frank Sinatra no carro. "What now my love?" combinava com o filme.

CÃO SEM DONO. Sério candidato a melhor filme do ano.

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