domingo, julho 03, 2005

TOPÁZIO (Topaz)



Dando continuidade à minha peregrinação pela obra do grande Alfred Hitchcock, eis que finalmente vejo TOPÁZIO (1969), filme considerado por muitos como seu pior trabalho realizado nos EUA. Fico feliz de só tê-lo visto agora, em DVD, e com mais conhecimento de seu contexto histórico. Imagino que se tivesse visto o filme no início de minha cinefilia, e naquela cópia em VHS da CIC, eu teria odiado. Pena que esse DVD - assim como o de MARNIE (1964) - está em tela cheia. Mesmo assim, a imagem está linda e o DVD tem mais extras do que muitos outros filmes melhores de Hitchcock.

É realmente um filme problemático. Não sei se foi uma boa idéia o diretor dirigir um outro thriller de espionagem, logo depois do fracasso de crítica de CORTINA RASGADA (1966) e dos problemas que ele teve com os astros Paul Newman e Julie Andrews. Esse problema com os atores pode ter repercutido na opção de não mais trabalhar com astros a partir de então. Os nomes mais conhecidos do elenco são do cinema francês: Michel Piccoli e Philippe Noiret, além da gracinha Claude Jade. Quem é fã dos filmes do ciclo Antoine Doinel, de François Truffaut, deve gostar dela tanto quanto eu. Claude Jade até hoje fica na minha cabeça como modelo ideal de mulher para se casar. Foi Doinel quem não soube aproveitar por ser tão mulherengo. Porém, Claude tem um papel bem pequeno no filme, quase insignificante.

A mulher que brilha mesmo em TOPÁZIO é a bondgirl Karin Dor, no papel da cubana Juanita de Cordoba. Karin é uma atriz alemã que trabalhou em vários filmes de terror na Europa, mas que ficou mais conhecida quando estrelou COM 007 SÓ SE VIVE DUAS VEZES (1967). E não deixa de ser uma ironia Hitchcock escolher uma bondgirl, logo ele que tanto criticava os filmes de James Bond. Confesso que me amarrei na moça, cheia de sex appeal. A melhor parte do filme é justamente quando o espião interpretado por Frederick Stafford vai a Cuba em busca de informações secretas sobre a crise dos mísseis no país. Com a Guerra Fria, o medo era de que a União Soviética apoiasse Fidel Castro e ele acabasse bombardeando os EUA. E por falar em Fidel Castro, Hitchcock mostra todos os soldados de Fidel barbados iguais a ele. Até fica parecendo um monte de clones de Castro.

Um dos problemas de TOPÁZIO é que o filme demora a conquistar o nosso interesse. O filme só fica melhor lá pelos seus quarenta minutos, a partir da cena em que Stafford vai em busca de uns papéis (sempre o mcguffin) que estão nas mãos dos soldados de Fidel. Hitchcock nos presenteia com seqüências inteiras sem diálogo, quase como um retorno à sua fase muda. Depois vem a seqüência de Cuba, muito boa, que dura quase uma hora de filme, mas depois disso, o filme vai ficando chato de novo, até o controvertido final. O final original mostraria Michel Picoli duelando com Stafford, utilizando armas de fogo. O público, nas exibições teste, não gostou nenhum pouco desse final e Hitchcock acabou mudando para um final bem tapa-buraco.

Independente disso, não deixou de ser um prazer pra mim ver pela primeira vez mais um filme de Hitchcock. E como todo filme do diretor, mesmo os tortos e irregulares, esse também tem seus momentos de genialidade. Como na cena da morte de Juanita, onde Hitch faz o vestido da moça parecer sangue derramado. Assim como fizera em outros de seus thrillers de espionagem - como CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO (1940) e CORTINA RASGADA -, ele também acaba fazendo um filme sobre relacionamentos. TOPÁZIO é também um filme sobre infidelidade amorosa. E como o tema da culpa aparece nem que seja escondido em seus filmes, alguém tem que pagar caro nessa história toda.

O documentário de Laurent Bouzereau que vem no DVD tem cerca de trinta minutos. Dessa vez, Bouzereau optou por trazer uma análise do filme, feita pelo crítico Leonard Maltin. E devo dizer que ver esse documentário foi mais prazeiroso que ver o próprio filme do Hitch. O DVD também vem com os dois finais alternativos que foram cortados da edição oficial.

Próximo filme de Hitch que eu devo (re)ver: FRENESI (1972), o retorno à Inglaterra, com um filme sangrento.