domingo, julho 10, 2005

CASA DE AREIA



Foi um grande salto na carreira de Andrucha Waddington esse CASA DE AREIA (2005), terceiro longa-metragem de ficção do diretor. Os primeiros foram GÊMEAS (1999), também com sua esposa Fernanda Torres, que eu não vi, mas dizem que é bem ruim; e o divertido EU TU ELES (2000). Se contarmos com VIVA SÃO JOÃO! (2002), documentário que o diretor fez aproveitando a turnê de divulgação da trilha sonora de EU TU ELES, feita por Gilberto Gil, já são três os longas abordando o Nordeste brasileiro feitos pelo diretor.

Voltando a CASA DE AREIA, não esperava que fosse tão bom. O filme impressiona logo na seqüência inicial, que mostra uma duna enorme dos lençóis maranhenses, valorizada ainda mais pelo formato scope e pela opção de iniciar a ação no extremo canto esquerdo da tela, num plano geral. A história começa em 1910, quando um grupo de pessoas numa caravana se aventura a morar num lugar onde não tem praticamente nada a não ser areia e um pequeno lago. O líder do grupo tem o nome sugestivo de Vasco, interpretado pelo cineasta Ruy Guerra. Ele carrega consigo a mulher (Fernanda Torres) e a sogra (Fernanda Montenegro).

As mulheres até tentam sair do lugar, mas uma força maior as impede, como se estivessem sob algum feitiço, alguma maldição. Até lembra um pouco a maldição que abate os burgueses em O ANJO EXTERMINADOR, de Buñuel. Essa maldição buñelesca vai perseguir essas mulheres até as gerações seguintes.

Com o passar dos anos, as duas Fernandas se revezam, trocando de lugar: uma passa a ser a mãe, a outra passa a ser filha. E o tempo passa, enquanto elas vivem alheias ao que está acontecendo ao mundo lá fora. As duas atrizes têm desempenhos extraordinários. Principalmente Fernanda Torres, que convence tanto como mãe, quanto como uma jovem garota. (E o diretor foi corajoso também em colocar a sua mulher para fazer aquela cena de sexo com o Seu Jorge.) Além das duas Fernandas, de Ruy Guerra e de Seu Jorge, outros nomes famosos abrilhantam o elenco, como Stênio Garcia, Emiliano Queiroz, Luiz Melodia e Jorge Mautner, numa participação especial.

O final é belíssimo, poético, com um dos poucos momentos em que se ouve música no filme. A música que ouvimos durante praticamente o filme inteiro é apenas o som do vento. Diria que CASA DE AREIA é o melhor filme nacional lançado em 2005 que eu vi até o momento, já que ENTREATOS, que eu só vi nesse ano, já tinha sido lançado no sul do país no final de 2004.

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