quinta-feira, julho 10, 2003

A NOITE AMERICANA (La Nuit Americaine)



Há cerca de dez anos eu assisti A NOITE AMERICANA quando do lançamento em VHS. Acho que na época não gostei muito. Achei o filme um pouco arrastado e fragmentado. Mas naquele tempo eu ainda não conhecia nada do cinema de François Truffaut. Hoje, graças ao impacto que o ciclo de filmes de Antoine Doinel (OS INCOMPREENDIDOS, BEIJOS ROUBADOS, DOMICÍLIO CONJUGAL) teve sobre mim, cada filme que vejo do diretor é com outros olhos.

A NOITE AMERICANA (1973) é particularmente especial. Principalmente se visto nessa edição especialíssima em DVD lançado pela Warner. A imagem está cristalina. O filme parece que foi feito ontem, tal a perfeição da imagem. Linda e deslumbrante está Jacqueline Bisset, como a estrela do filme dentro do filme, que tem um passado de colapsos nervosos. Sensacional ver Jean-Pierre Léaud, o Antoine Doinel, o alter-ego dos filmes mais pessoais de Truffaut, na tela de novo. Quem é fã de Truffaut sempre fica feliz ao vê-lo. Nem que seja em obras de outros autores, como IRMA VEP(1996), de Olivier Assayas.

O filme guarda vários momentos belos. Acho que a cena que me deixou mais emocionado é uma em que o diretor do filme dentro do filme (o próprio Truffaut) recebe por telefone os primeiros acordes da trilha sonora do filme, enquanto recebe um pacote contendo vários livros sobre cinema (livros sobre Bergman, Hawks, Godard, entre outros mestres). Depois, vendo no documentário presente nos extras, soube que aquela música não era inédita e já tinha sido utilizada em outro filme de Truffaut: DUAS INGLESAS E O AMOR (1971). Outra seqüência muito legal é quando Jean-Pierre Léaud pede para Dani, a estagiária da filmagem, andar na frente, rebolando pra ele olhar pra sua bunda. Lembrei na hora das aventuras de Doinel. Todas as cenas em que Truffaut, o homem que amava as mulheres, focaliza Jacqueline Bisset são lindas. Sente-se no ar a profunda paixão que ele nutre pelas mulheres. Talvez ele amasse as mulheres tanto quanto o cinema.

A temática "vida real vs cinema" também é explorada. Mesmo adorando cinema, os bastidores do filme são mostrados de maneira muito mais interessante do que as cenas da produção. Detalhes da técnica cinematográfica também são revelados. A cena do gato que não queria beber o leite para a cena é muito engraçada. Daria pra ficar falando bastante aqui sobre o filme, mas corro o risco de ficar tedioso. O melhor mesmo é conferir essa obra-prima prazeirosa.

No DVD constam os seguintes extras:
- Uma conversa com Jacqueline Bisset
- A Noite Americana: uma apreciação (esse é o meu extra preferido, trazendo uma especialista e apaixonada pelo cinema de Truffaut discorrendo sobre o filme.)
- La Nuit Americaine: Conexão França (com pequenas entrevistas com membros do elenco - uma observação maldosa: como Dani, apresentada bonita no filme, está feia 30 anos depois!!)
- Truffaut: um ponto de vista
- Entrevista com François Truffaut
- Festival de Cannes de 1973
- Truffaut nos EUA
- Trailler de cinema (o trailler está dublado em inglês)

Isso é que eu chamo de DVD de respeito, hein!!

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