quinta-feira, julho 17, 2003

11 DE SETEMBRO (11´09"01)



Vi ontem 11 DE SETEMBRO, coletânea de curtas de 11 minutos, dirigida por 11 cineastas de 11 países diferentes. Os diretores, de acordo com o projeto, teriam total liberdade de expressão para falar sobre o tema que abalou os EUA e o mundo em 2001. O resultado, como esperado, é irregular. Alguns curtas são ótimos, outros são regulares, alguns são bons e há um ruim. Comento um pouco cada um deles, dando as cotações de ruim a excelente.

Samira Makhmalbaf (Irã)

A diretora de A MAÇÃ mostra uma professora tentando mostrar para as crianças de uma escola o que acabara de acontecer em Nova York. Regular.

Claude Lelouch (França)

O veterano cineasta de UM HOMEM, UMA MULHER e FELIZ ANO NOVO fez um dos ótimos curtas. Mostrou o drama de uma mulher surda em Nova York, no dia do fatídico evento. O silêncio e o zumbido chegam a perturbar. Ótimo.

Youssef Chahine (Egito)

Não conheço nada desse cineasta egípcio. O filme dele mostra um cineasta sensível ao que estava prestes a acontecer e que conversa com o fantasma de uma vítima do atentado. O maior drama é o fato de o rapaz morto ter encontrado a mulher da vida dele, pouco antes de morrer. Bom.

Danis Tanovic (Bosnia-Herzegovna)

Talvez o filme com a mais bela fotografia da coleção de curtas. Tanovic, de TERRA DE NINGUÉM fez um filme simples que fala da solidariedade das pessoas da Bósnia pelo que aconteceu com os EUA. Regular.

Idrissa Ouedraogo (Burkina Faso)

Esse filme africano me lembrou o nosso CIDADE DE DEUS. Garotos pobres de uma vila tentam ficar ricos ao verem Osama Bin Laden no país. É o curta mais leve de todos. Bom.

Ken Loach (Reino Unido)

Loach (PÃO E ROSAS, TERRA E LIBERDADE), se não fez um belo exercício de cinema, fez um trabalho de informação precioso. Ele não tem medo de cutucar os americanos ao falar de outro 11 de setembro: o de 1973, quando os EUA ajudaram a tirar do poder o governo democrático de Salvador Allende e puseram no poder o ditador Pinochet. Essa história a gente conhece um pouco aqui no Brasil, né? Mas no Chile a coisa foi mais dramática, já que Allende foi assassinado. Ótimo.

Alejandro González Iñárritu (México)

O diretor do ótimo AMORES BRUTOS fez uma bela porcaria dessa vez. Um filme com a tela preta, mostrando de vez em quando imagens do povo caindo do prédio do WTC, até eu faria. E eu achando que a minha tv tinha quebrado.... Ruim.

Amos Gitai (Israel)

Gitai não soube se fazer entender se estava dirigindo uma comédia ou um drama. Mostra uma repórter cobrindo um atentado-rotina em Israel, no dia em que os aviões batem nas torres gêmeas. Regular.

Mira Nair (Índia)

A diretora de UM CASAMENTO À INDIANA fez um dos filmes mais bonitos do projeto. Mostra o drama daquelas pessoas que foram confundidas com terroristas logo após o atentado. E o mais bacana é que esse foi baseado numa história real. Ótimo.

Sean Penn (EUA)

Sean Penn, de UNIDOS PELO SANGUE, fez o filme mais ousado. Quem diria que um americano iria tratar a queda das torres como algo positivo?? Ernest Bornigne faz o velho que vive à sombra entristecedora das torres e faz de conta que sua mulher ainda está viva. Excelente.

Shohei Imamura (Japão)

Mas o melhor estava pra vir. Imamura, um dos meus cineastas japoneses preferidos, autor dos ótimos BLACK RAIN, A BALADA DE NARAYAMA e ÁGUA QUENTE SOBRE PONTE VERMELHA, fez outra obra-prima: a história estranha de um homem que após voltar da guerra (2a Guerra Mundial), pensa que é uma cobra. O filme é o bicho! Excelente.