
Fiquei feliz quando a Giselle trouxe a proposta de vermos SUPERMAN (2025) no sábado. No estado em que eu estava na sessão de quinta-feira, e com a desvantagem de ser em 3D horroroso que atrapalha a beleza das cores vivas da fotografia, ficaria difícil pra mim fazer um julgamento justo do filme, não importando se eu estava vendo no IMAX. E de fato é um belo trabalho de James Gunn, agora como líder da reformulação da DC no cinema. Ele já havia trabalhado para a DC/Warner com o ótimo O ESQUADRÃO SUICIDA (2021), que trazia seu humor característico e anárquico, de modo a desfazer o equívoco que foi o filme de David Ayer. Saiu da Marvel com o pé direto, com o lindo GUARDIÕES DA GALÁXIA – VOL. 3 (2023) para assumir uma baita responsabilidade, já que os fãs do Homem de Aço são exigentes. Ele tinha três públicos para satisfazer, além de si mesmo: os fãs dos quadrinhos da DC, os cinéfilos e o público em geral, que embarcou e muito com o clássico SUPERMAN – O FILME, de Richard Donner. A julgar pela boa recepção da Giselle, que se encaixa mais na terceira categoria, o filme de Gunn foi um sucesso.
Acredito que poderia ser mais redondo e as partes que deveriam causar mais emoção poderiam ser mais emocionantes, como o beijo final com Lois ou a cena da chegada da Gangue da Justiça no país fictício oprimido que representaria muito provavelmente a Palestina, atualmente sofrendo o genocídio perpetrado por Israel. Gunn faz uso muito bom de seu estilo para sair do lugar comum de uma filmagem mais clássica, como quando evita o uso do campo-contracampo e faz muito o movimento de câmera nos diálogos entre os personagens, causando uma sofisticação que agrada aos olhos. E essa sofisticação ele traz também para as cenas de luta, mesmo as mais longas, como no embate do herói com seu principal nêmesis físico, o Ultraman, que lá no final saberemos quem ou o que se trata.
Falando em vilão, Nicholas Hoult está ótimo como Lex Luthor, o grande arqui-inimigo do Superman, que já foi encarnado por atores como Gene Hackman, Kevin Spacey e Jesse Eisenberg em outras versões do herói para o cinema. Hoult faz o clássico vilão que fala demais, como nos quadrinhos pré-revolução dos anos 1980 nos quadrinhos. A intenção, acredito, é trazer um ar retrô que aproxime essa versão de 2025 com os anos de sua criação, no final dos anos 1930 e posteriores. Esse aspecto mais expositivo pode incomodar um pouco, mas é só comprar e aceitar a ideia e encarar esse tipo de diálogo mais como homenagem do que como sátira. Até porque percebe-se o interesse de Gunn em trazer o máximo de dignidade ao herói.
Já a Lois Lane de Rachel Brosnahan (da série MARAVILHOSA SRA. MAISEL) é um acerto e tanto. Não só por tirar a personagem o máximo possível de donzela em perigo para um lugar de agente da ação, como também porque ela faz embates com o próprio Superman/Clark Kent. Aliás, trazer o Superman mais como Clark Kent do que como Kal-El, embora muito pouco caracterizado como seu disfarce, o aproxima mais de um ser terreno e próximo dos valores de alguém deste planeta, mais de valores que transcendam os valores americanos, já que ele não se vê como cidadão americano e não tem que seguir ordens do presidente dos Estados Unidos. Essas e outras questões têm tornado o filme bem pouco querido pela extrema direita, que o chama de Superman Woke.
No mais, vale destacar a presença de outros coadjuvantes que roubam a cena: o cãozinho Krypto, todo feito em CGI, mas que parece um cão de verdade; o Sr. Incrível, vivido por Edi Gathegi, que é o personagem mais cool do filme; Isabel Merced como a Mulher-Gavião, apesar de aparecer pouco; e Sara Sampaio como a agente dupla Eve Teschmacher, personagem, aliás, criada originalmente para o filme de Richard Donner, mas que depois seria incorporada nos quadrinhos.
Ah, e antes que eu me esqueça, David Corenswet manda muito bem como o novo Superman. Imprime um tipo de bondade que às vezes se confunde com ingenuidade, como deixa claro numa das conversas que ele tem com Lois. Essa repaginação do Superman depois de uma tendência às sombras de Zack Snyder é muito bem-vinda. Não que eu prefira um ao outro, mas pela necessidade de mudança mesmo. E Gunn sabe o que faz, embora precise estar menos engessado no próximo filme.
+ TRÊS FILMES
JURASSIC WORLD – RECOMEÇO (Jurassic World – Rebirth)
Há uma cena em JURASSIC WORLD – RECOMEÇO (2025), de Gareth Edwards, que define bem o seu espírito: é quando a personagem de Scarlett Johansson, que vive uma mercenária especialista em missões perigosas, aceita o acordo de ir até à ilha proibida dos dinossauros pela soma incrível em dinheiro proposta pela empresa farmacêutica que pretende usar DNA dos dinos para criar remédios. A cena em si é ruim do ponto de vista da dramaturgia, mas pra esse tipo de filme isso não importa muito. A questão é que ela funciona como uma metáfora para o topa tudo por dinheiro de Hollywood em se aceitar projetos assim, que não apresentam nada de novo e que também não funcionam como boas aventuras com cenas assustadoras. Tudo é reciclado sob desculpa de homenagem ao original de 1993 de Steven Spielberg, até a trilha memorável de John Williams. O filme, enquanto foca na preparação para a missão do grupo principal, demora a engrenar. Melhora um pouco quando entra em cena uma família que está fazendo um passeio por águas próximas às da ilha proibida. Há, inclusive, uma homenagem interessante a TUBARÃO. Essa família traz também um alívio cômico que o grupo principal não havia conseguido até então. Em alguns momentos o filme parece produzido por uma IA, de tão sem humanidade que é. Há uma certa covardia por parte do diretor (ou de quem o comandou) em não fazer cenas um pouco mais gráficas do ataque dos dinossauros aos humanos e há uma ineficiência em saber recriar cenas do anterior em outro contexto. De todo modo, a gente entende que há um senso de moral necessário para esse tipo de produção, como punir os maus (e os coadjuvantes com pouca função) e salvar os bons, inclusive uma criança. Enfim, mais um filme sem alma para esta franquia.
F1 – O FILME (F1 – The Movie)
Não curto muito Fórmula 1, assim como não sou entusiasta de nenhum esporte. Até tentei ver algumas corridas nos anos 90, e buscar entender o que estava acontecendo, mas sentia dificuldade, em parte por alguma incapacidade das várias câmeras darem conta de captar de forma inteligível para mentes menos observadoras. No caso de F1 – O FILME (2025), há a voz do narrador nas corridas e há uma edição bem rápida e dinâmica, de modo que nos deixa ligados o suficiente para não nos cansarmos em suas mais de 2h30 de metragem. Brad Pitt está ótimo como o cinquentão que teve seu auge nos anos 90 e que é convidado pelo dono de uma das equipes (vivido por Javier Bardem, sempre ótimo, mas aqui em modo mais de pura diversão) a integrar o grupo como um dos dois pilotos de corrida. O outro é um jovem cheio de si que logo se vê ameaçado pela persona cool do piloto com histórico de fracasso, mas com segurança e interesse em dar o melhor para a equipe, inclusive ajudando na questão da melhoria dos carros, tidos como umas latas velhas. Vale muito ver o filme numa tela IMAX, afinal trata-se de um trabalho feito para exibição nesse tipo de sala e a bela fotografia de Claudio Miranda, que já havia trabalho com Joseph Kosinski em TOP GUN - MAVERICK (2022). Não é filme para se ficar dias pensando a respeito, mas é divertido e melhor do que o trailer dava a entender, até por conta da questão da idade do personagem de Pitt, que acaba sendo essencial para a própria trama. Na trilha sonora, vários clássicos do rock ajudam a trazer animação para a trama e a trilha sonora de Hans Zimmer é ótima.
PREMONIÇÃO 6 – LAÇOS DE SANGUE (Final Destination – Bloodlines)
Lá em 2011, quando saiu PREMONIÇÃO 5, a franquia já demonstrava sinais de cansaço e era aquele tipo de diversão que só chegava ao cinema por causa dos efeitos 3D. Já tinha cara de produção direto para vídeo. A New Line trazer de volta a franquia, tomando de assalto várias salas classe A em todo mundo (aqui estreou na IMAX), é uma prova de que a Warner acreditava no poder da nostalgia. Embora a cena inicial de PREMONIÇÃO 6 – LAÇOS DE SANGUE (2025) seja boa, a protagonista, quando acorda do pesadelo e vai até sua família, não é boa o suficiente para segurar a narrativa, que nem existe. O resultado é sonolento, aborrecido e as cenas mais gráficas são fracas. Ainda assim, são as cenas de morte que nos acordam do sono, especialmente quando surgem de maneira mais inesperada. Os diretores Zach Lipovsky e Adam B. Stein vieram de produções para a TV da Disney e de um filme pouco conhecido chamado ABERRAÇÕES (2018).
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