sábado, outubro 17, 2015

SICARIO – TERRA DE NINGUÉM (Sicario)



E Denis Villeneuve vai construindo uma carreira baseada tanto na construção de uma atmosfera de tensão e suspense auxiliada pelo excelente desenho de som – no caso de O HOMEM DUPLICADO (2013), também de terror –, ao mesmo em tempo que também vai deixando mais claras suas obsessões ou seus interesses. SICARIO – TERRA DE NINGUÉM (2015) é, assim como OS SUSPEITOS (2013), um conto moral elaborado com a intenção de nos convidar para o lado mais sombrio da alma humana.

Para isso, o cineasta canadense nos coloca nos sapatos da agente do FBI Kate Macer (Emily Blunt), que, depois de descobrir os corpos escondidos de vítimas de um cartel do tráfico mexicano, é convidada pra fazer parte de uma missão secreta. O que ocorre, porém, é que os homens que a convidam e aqueles que serão os verdadeiros protagonistas da ação a deixam no escuro sobre as reais intenções, sabendo que ela é uma agente que atua de acordo com as normais legais, não se deixando corromper ou adentrar um caminho de perdição, por assim dizer.

Os principais envolvidos na operação de combate ao tráfico que tem como principal missão atacar o chefe do tráfico Manuel Diaz são homens cujas funções são até mesmo complicadas de serem compreendidas pela agente. Eles são vividos pelos ótimos Josh Brolin e Benicio Del Toro. Este último, então, rouba o filme para si, tanto pela força de sua caracterização, principalmente à medida que o filme vai chegando perto de sua conclusão.

Mas até lá estamos tão perdidos quanto Kate Macer e essa sensação é tão agradável quanto desconfortável. Afinal, é possível confiar naqueles homens e em seus métodos? O filme, que conta com algumas cenas de violência impactante, até poderia ter sido mais pesado se Villeneuve preferisse chocar mais a audiência. Provavelmente ele fez bem em não ter exagerado tanto, por exemplo, nas cenas de tortura.

Um dos pontos altos do filme acontece durante um engarrafamento em pleno México, quando o grupo de americanos, auxiliado pela polícia mexicana, percebe um grupo de criminosos nos carros ao lado. O que eles efetuam ali, em público, é impressionante. É a partir daí que passamos a admirar Alejandro, personagem de Del Toro, que ganhará ainda mais força quando soubermos um pouco mais sobre o seu passado e o seu real interesse pela missão. Enquanto isso, vamos nos acostumando à escuridão dessa situação.

Mas escuridão mesmo estaria por vir na cena em que Villeneuve e o diretor de fotografia Roger Deakins, de obras admiráveis como A VILA (2004), ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (2007) e 007 – OPERAÇÃO SKYFALL (2012), apresentariam. Há uma cena que se passa na completa escuridão dentro de um túnel clandestino que liga a fronteira entre Estados Unidos e México. Durante esta cena, foram utilizadas câmeras termais e de visão noturna. Este, aliás, é um momento-chave para a jornada da personagem de Emily Blunt.

Por outro lado, é quando ocorre uma reviravolta no foco dos personagens que acaba sendo muito bem-vinda. Afinal, algumas das melhores cenas serão guardadas para esse final. Cenas em que Villeneuve mais uma vez provoca o espectador em suas convicções morais: até que ponto aceitamos certas ações violentas em prol de uma justiça? Nisso, o filme até pode ser visto por alguns como danoso ou maléfico, sem falar nas possibilidades racistas ao apresentar o México, quase sempre, como um lugar perigoso e que deve ser limpo, nem que seja por pessoas dispostas a fazer o trabalho sujo.

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