
Dos cineastas oriundos da Nova Hollywood, Peter Bogdanovich talvez seja um dos mais subestimados. Responsável por filmes memoráveis no início de sua carreira e mesmo na década de 1980, e ainda sendo também um dos responsáveis por tornar o cinema americano mais próximo da Nouvelle Vague francesa, com sua vontade de estudar cinema de maneira mais aprofundada e sua paixão por filmes. E também pelas mulheres de seus filmes, o que o aproxima de François Truffaut.
Em UM SONHO, DOIS AMORES (1993), um filme quase esquecido dele, ele traz uma atriz que hoje também é pouco lembrada, mas que brilha acima de todos no filme, a adorável Samantha Mathis. E isso não é pouco, levando em consideração que se trata de um dos trabalhos de despedida do jovem astro River Phoenix e que ainda conta com a simpatia dos então novatos Sandra Bullock e Dermot Mulroney. Os quatro formam um quadrado amoroso bem interessante na meca da música country americana, Nashville.
É de lá que chega de Nova York a jovem e decidida Miranda Presley, a fim de ganhar a vida como uma estrela nesse competitivo universo. Ela chega atrasada para a primeira sessão de divulgação de seu trabalho, no mesmo dia que o jovem e um tanto abusado James Wright (Phoenix) também chega. Os dois não se bicam no primeiro dia, mas a tensão gera sentimentos positivos, por assim dizer, e eles terão a chance de se ver novamente, já que ambos estão ali para realizar os seus sonhos. No mesmo dia conhecem Kyle (Mulroney) e Linda (Bullock) e a nova vida de Miranda fica excitante aos nossos olhos.
É ela quem mais se aproxima do espectador, que também é um estranho naquele ambiente e que compartilha com ela de seus desejos e de suas frustrações. E interessante como Nashville se torna mais uma cidade interessante dentro da vasta geografia americana, com suas canções simples de amor e espírito de cidadezinha.
E o bacana é que nem é preciso ser um fã de country music para curtir o filme. Além do mais, música boa a gente reconhece fácil e vamos acompanhando aos poucos a evolução musical dos personagens. Curiosamente, a música não é exatamente o foco de atenção do filme, mas a ciranda de amores entre os personagens. A gente sente que, apesar de sofrerem, eles também estão vivendo o melhor momento de suas vidas. Bogdanovich foi muito feliz em passar esse sentimento de estar vivo na juventude, quando tudo é tão mais urgente e confuso em nossas cabeças.