quarta-feira, agosto 05, 2015

O EXPRESSO DE SHANGAI (Shanghai Express)



Não chega a ser dos meus favoritos dentre os filmes dirigidos por Josef von Sternberg e estrelados por sua musa Marlene Dietrich, mas O EXPRESSO DE SHANGAI (1932) não deixa de ser mais um belo exemplar do barroco do cineasta austríaco que teve o seu momento de glória na década de 1930, em Hollywood. Lá ele podia brincar com liberdade com os jogos de luz e sombras e com cenários tão suntuosos (ou sujos) que parecem reais. Pelo menos a impressão que dá é que o cineasta filmou na China ou pelo menos em qualquer lugar próximo. Mas não. Foi tudo em estúdio.

Assim como aconteceu em MARROCOS (1930) e DESONRADA (1931), filmes anteriores da dupla, há em O EXPRESSO DE SHANGAI não apenas um gosto pelo exótico e pelas paixões arrebatadoras, mas algo de fatalismo, embora nem o amor seja levado às últimas consequências como em MARROCOS, nem o fatalismo seja tão forte quanto em DESONRADA.

Nesse meio termo que traz também sequências de alívio cômico, vemos a história de um grupo de pessoas que viaja em um trem que sai de Pequim com destino a Xangai durante um período de guerra civil na China, sem que saibamos quem é o vilão e o mocinho da história: o Governo ou os revolucionários. Mas isso pouco importa, na verdade.

Marlene Dietrich faz o papel de uma prostituta famosa chamada Shanghai Lilly, cuja presença no trem mexe com a tripulação, seja um pastor protestante que acha aviltante a sua presença, seja uma senhora dona de um estabelecimento para pessoas decentes, seja, principalmente, um oficial que já esteve prestes a casar com Lilly no passado, mas algo se perdeu.

Os dois, apesar de tentarem disfarçar ou posarem de indiferentes, são ainda apaixonados um pelo outro, e o modo como eles são colocados como reféns do grupo revolucionário só faz com que o perigo aumente ou torne mais explícito esse amor. Tanto é que na cena em que Lilly está rezando pelo homem que ama, Sternberg faz questão de tornar esse momento quase sacrossanto: uma prostituta em sinal de desespero e buscando o pouco de fé que lhe resta. Em algum momento, cheguei a lembrar de Marion Cotillard chorando na igreja em ERA UMA VEZ EM NOVA YORK, de James Gray.

O gosto por personagens femininas marginais prossegue nessa parceria Sternberg-Dietrich e a construção dos personagens de apoio é interessante, assim como a fotografia de Lee Garmes, em sua última colaboração com Sternberg, linda como nunca. Porém, falta ao filme algo que torne o amor do casal suficientemente convincente ou tocante. É como se o diretor estivesse interessado demais nos aspectos plásticos de seu trabalho e tivesse perdido um pouco a mão no que se refere ao apelo dramático e romântico.

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