quarta-feira, março 26, 2014

SETE CURTAS DE JULIANA ROJAS E MARCO DUTRA



A cada vez maior presença de Juliana Rojas (A ÓPERA DO CEMITÉRIO, 2013) e Marco Dutra (QUANDO EU ERA VIVO, 2014) em um cenário de visibilidade mais ampla é um convite para que possamos conhecer o trabalho dessa dupla em conjunto. Alguns desses curtas já podem ser visualizados na internet; outros ainda são um pouco mais difíceis. Os que eu pude encontrar e apreciar são esses abaixo. Alguns são assinados pelos dois; outros só por Juliana, mas com Dutra desempenhando outras funções.

DANCING QUEEN 

Olhando, nem dá pra dizer que é um trabalho de Rojas e Dutra. É apenas uma brincadeira feita em sala de aula, usando câmera de VHS e com uma montagem bem ruim, sem muita preocupação. Utilizam na trilha de DANCING QUEEN (1999) a canção homônima do Abba. Que para muitos é feliz, mas pra mim é bem triste. O que há de bom, no entanto, é o jeito alegre e despojado dessa produção em preto e branco e que já flertava com o fantástico: há um sujeito fantasiado de bruxa. Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra.

O LENÇOL BRANCO 

Aqui sim é um trabalho de respeito. Os dois diretores já parecem dominar a gramática cinematográfica ao contar a história de uma jovem mulher que, depois de um transe, viu que sua filha recém-nascida estava morta. O destaque da menina morta esperando o legista em cima do sofá e debaixo de um lençol branco é muito incômodo. E já desde o começo de O LENÇOL BRANCO (2004, foto), quando a protagonista tenta amamentar a criança, já passa uma ideia de corpo estranho. Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra.

NENHUMA CARTA PARA O SR. FERNANDO 

Um curta no mínimo intrigante esse do sujeito cujo andar do prédio (o sétimo) desapareceu. Ele chega lá e o vigia só avisa que ele não mora lá. Há uma atmosfera de sonho muito interessante. Não sei se é de propósito, mas o arquivo que consegui de NENHUMA CARTA PARA O SR. FERNANDO (2005) traz uma fotografia em janela quadrada, como para prender os personagens naquele ambiente de pesadelo kafkiano. Direção: Juliana Rojas.

A CRIADA DA CONDESSA 

E Juliana Rojas continua brincando com fantástico. Desta vez, a tal condessa do título é uma vampira. O cenário escuro, à luz de velas, do apartamento onde ela mora e traz suas vítimas ajuda a dar ao filme um ar interessantemente sobrenatural. Mas há em A CRIADA DA CONDESSA (2006) algo que não funciona direito. Não ajuda muito o monólogo da criada, mas é interessante o último diálogo das duas. Direção: Juliana Rojas.

UM RAMO 

Este é talvez o mais famoso curta da dupla. Tive a sorte de ver no cinema, em uma mostra de curtas dirigidos por mulheres. Já me encantou na época (2011, creio eu). Revisando, UM RAMO (2007) continua muito bom. E é talvez o mais cronenberguiano dos filmes da dupla, em que o corpo estranho, no caso, ramos que começam a brotar no corpo da protagonista, seja um elemento de perturbação psicológica. Mas há também um momento lindo visualmente, que é justamente a última imagem do filme, que remete até mesmo ao Monstro do Pântano, o personagem da DC Comics. Não sei se foi de propósito. Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra.

VESTIDA 

Não consegui entrar no clima deste curta muito elogiado. VESTIDA (2008) lida de maneira interessante com a morte, destacando momentos do cotidiano do velório e do enterro. É talvez o trabalho mais humanista da dupla, em que vemos também o sofrimento do marido que perdeu a esposa e fica cheirando o vestido da falecida. É também uma mudança do tradicional urbanismo para um ambiente rural. E também é mais contemplativo do que os demais. Direção: Juliana Rojas.

AS SOMBRAS 

Uma das coisas que eu mais gostei em AS SOMBRAS (2009) foi a dedicatória no final: "dedicado à memória de Walter Hugo Khouri". Tem como não simpatizar com o filme? Dá até vontade de rever e perceber mais detalhes de semelhanças com obras como AMOR VORAZ e outros trabalhos do maior de nossos cineastas. Em AS SOMBRAS, uma mulher (Helena Albergaria, de TRABALHAR CANSA, 2011), sofre de confusões mentais e é assistida por duas pessoas que gostam dela, um homem (Silvio Restiffe) e uma mulher (Djin Sganzerla). Gosto, particularmente, das cenas na floresta, da expectativa do fantástico. Um belo filme definitivamente khouriano. Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra.

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