quarta-feira, julho 27, 2011

CINZAS NO PARAÍSO / DIAS DE PARAÍSO (Days of Heaven)



Aproveitando a proximidade da estreia de A ÁRVORE DA VIDA (2011), resolvi assistir o filme que faltava eu ver de Terrence Malick, esse cineasta que já se tornou uma lenda viva, mesmo tendo apenas cinco filmes no currículo até o momento. DIAS DE PARAÍSO (1978) foi o que ele fez antes de se dar a si mesmo e aos cinéfilos um jejum de simplesmente vinte anos, só finalizado com ALÉM DA LINHA VERMELHA (1998). Seus filmes se caracterizam por serem extremamente ligados à natureza, que se contrapõem às ações do homem, artificiais e violentas. Mas a visão de Malick não parece ser julgadora. Tanto é que o narrador é a garotinha pré-adolescente, irmã de Bill, o personagem de Richard Gere.

A sequência inicial do filme mostra o protagonista brigando numa fábrica com um homem. Logo em seguida, ele foge com a irmã pequena e a namorada Abby (Brooke Adams) para trabalharem nos campos de trigo de uma grande fazenda. O trabalho é duro, mas o lugar aos olhos do espectador parece paradisíaco, graças à fotografia esplendorosa de Nestor Almendros. Ele e Malick se inspiraram em pintores como Johannes Vermeer e Edward Hopper e em filmes mudos e documentários do início do século XX, que é quando se passa a trama.

Malick e Almendros utilizaram luz natural para construir coerência com algo tão próximo da obsessão do cineasta: a natureza, com seus animais silvestres e sua vegetação, tão ou mais importante que o homem. Curiosamente, Almendros fotografou apenas cerca de metade do filme. Por ter um compromisso com François Truffaut, com quem realizaria O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES, ele passou o cargo para Haskell Wexler, que para seu desgosto foi creditado apenas por fotografia adicional. E quem ganhou o Oscar foi Almendros.

Malick também gosta de destacar tragédias. Em todos os seus filmes, ela aparece de uma maneira ou de outra. No caso de DIAS DE PARAÍSO, ela se dá através do triângulo amoroso entre Bill, Abby e o fazendeiro, interpretado por Sam Shepard. Bill e Abby apresentam-se como irmãos. O fazendeiro, diagnosticado com uma doença fatal que lhe daria apenas um ano de vida, no máximo, apaixona-se por Abby. Apesar de ter ciúme de Abby com o fazendeiro, os dois acreditam que o melhor a fazer é que Abby aceite a proposta de casamento do fazendeiro. Depois que ele morresse, eles poderiam ficar com a fazenda. Seria um belo golpe. Mas o pressentimento de que algo daria muito errado é inevitável.

A trama é simples, os diálogos são econômicos e a força do filme se encontra nas imagens e na trilha sonora de Ennio Morricone. DIAS DE PARAÍSO, assim como os demais filmes de Malick, devem ser melhor apreciados na tela grande, de preferência numa sala de cinema bem equipada com som e imagem que façam jus à beleza plástica que se torna mais importante do que a própria trama. Talvez seja por isso que boa parte da audiência acaba por ver os filmes do diretor com certo distanciamento, já que a ligação com os personagens não é tão forte. Principalmente se comparada à beleza das imagens, próximas ao espiritual, mas ao mesmo tempo muito ligadas ao plano terreno.

O filme foi lançado originalmente nos cinemas brasileiros com o título CINZAS NO PARAÍSO. Em dvd, a Paramount lançou como uma tradução do título original.

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