segunda-feira, setembro 27, 2010

VIAGEM A RECIFE



A ideia da viagem surgiu do meu amigo Ebenézer. Estava em casa, dormindo num dia desses de crises de laringite, quando ele liga me convidando para ver o show do Dinosaur Jr. em Recife. Logo resisti, pois falta de tempo e de grana tem sido uma constante nos últimos meses. Mas ele acabou me convencendo. Aceitei. Podia ser uma boa a aventura de pegar a estrada para um local mais distante. A vida de vez em quando precisa ser semelhante a um road movie. A banda, eu nem conhecia direito. Só me lembrava de alguns clipes que passavam no saudoso Labo B, na MTV, no tempo que era apresentado pelo Fábio Massari. Mas como era uma dessas bandas que tinham pouco apelo popular e nem era tão incensada pela Bizz, acabou não sendo uma das poucas que eu cheguei a ouvir durante a explosão do grunge, no início dos anos 90. E como eu já falei para a turma pelo menos duas vezes: eu me arrependo de não ter gastado mais dinheiro com CDs naquela época. Um tempo em que uma apreciação musical era feita de uma maneira melhor, quando havia mais tempo ocioso e menos distrações.

Pois bem. A turma que ia com o Ebenezer acabou desistindo da viagem e ele me perguntou se eu conhecia alguém que poderia ir. A única pessoa que de repente entraria no perfil seria o Alex, entusiasta de rock e de shows. Ele logo aceitou. Mas faltava mais alguém para completar o quarteto. Já estava dando por perdida a viagem quando o Alex, no meio da semana, consegue alguém para ir: seu amigo Ivo. A correria começa para comprar ingresso pela internet, ter absoluta certeza que todos vão e marcar alguns detalhes via internet, já que ninguém tinha tempo para se encontrar pessoalmente. Mas acabou dando certo. Se as coisas não foram melhores, se não deu pra passear ou conhecer as praias de Pernambuco, como Porto de Galinhas, foi porque gastamos mais tempo dentro do carro e o corpo precisava descansar.

Havia falado com o amigo Osvaldo Neto, do blog Vá e Veja, e lhe pedido algumas orientações, mas não imaginei que ele fosse nos ajudar tanto e eu pudesse retribuir apenas com um muito obrigado e umas poucas e aperreadas horas comprando ingresso e procurando hotel. Ele fez a gentileza de procurar um lugar barato pra gente e acabamos encontrando um hotel trash mas com tudo de que precisávamos para dormir um pouco antes e depois do show, a fim de recuperarmos as forças. (Osvaldo, meu chapa, estou em débito contigo e imensamente grato pela atenção.) O ideal, claro, seria pararmos com calma num barzinho e conversarmos durante horas sobre filmes, uma paixão em comum. No fim das contas acabei ficando com complexo de culpa por ter recebido tanto e não ter retribuído. Mas culpemos os dias atuais, ingratos, que não nos deixam muito tempo para passarmos com os amigos. Também não tive tempo de me encontrar com outra pessoa especial por lá, o Guilherme. Até porque tinha esquecido o telefone dele anotado na agenda no meu carro, durante a correria para partir.

Quanto ao evento, foi melhor do que eu esperava. Depois de nos perdermos diversas vezes naquelas ruas estranhas, escuras e cheias de contornos, conseguimos chegar lá no teatro da UFPE. O evento, o No Ar Coquetel Molotov 2010, além de bem organizado, é cheio de agrados: ganhamos um CD contendo uma faixa de cada artista do evento, massagens relaxantes e pacotinhos de biscoito. Não cheguei a ver a primeira banda do horário das 21 hs, A Banda de Joseph Tourton, mas fiquei absolutamente encantado com a Taken by Trees, banda sueca que também esteve em Fortaleza ontem, na programação Invasão Sueca. A vocalista da banda é encantadora, tem uma voz linda, o som é minimalista, mas ao mesmo tempo sofisticado, tem um ar misterioso que remete às religiões antigas que cultuavam a natureza e em certo momento eu fiquei de olhos fechados e quase entrei em transe com o som. A vocalista tem aquele jeitinho comportado e meigo, que lembra um pouco a Zooey Deschannel. Dá vontade de levá-la pra casa.

A atração seguinte foi o Mad Professor, que não fez muito a minha cabeça, com o seu dub e seus samplers. O show deles foi bem curto, o que eu achei estranho, mas como não estava gostando mesmo, até gostei que tenha terminado cedo. Achamos um lugar bem perto do palco, para assim podermos ver mais de perto a atração principal da noite. Mas ainda havia o show do rapper paulistano Emicida, que estava rodeado de alguns fãs que sabiam de cor as letras de suas músicas. Gostei, ainda que rap não seja a minha praia. Em alguns momentos, entusiasma mesmo.

Chega a vez do Dinosaur Jr, a banda que fez o teatro tremer. A parede sonora ensurdecedora que a banda trouxe a princípio me incomodou, mas depois que a gente fica meio surdo fica mais fácil curtir o show. Como não conheço bem o repertório da banda, não adianta ficar discorrendo sobre o que eles tocaram ou não tocaram ou coisas do tipo. O que eu conhecia eram algumas faixas que ouvi nos últimos dias no carro e "Over it", uma das novas canções, que tem um clipe muito legal no youtube. (Obrigado pela recomendação, Gustavo!) E realmente o momento em que eles tocam essa canção foi um dos mais animados da festa. Para desespero dos seguranças que não conseguiam conter o público que vez ou outra burlava a barreira e subia no palco para se jogar na pequena multidão. Eu me divertia com isso. Destaque também para o solo de quase meia-hora perto do final da apresentação.

Fim de show, ouvido surdo e fome brutal. A ideia era procurar algum lugar para comer lá pela Boa Vista. De preferência uma pizzaria. Só achamos uma cópia de McDonalds, não muito saudável, mas que serviu para aplacar a fome. Retornamos para o hotel quando já era dia. Só o tempo de dormir mais um pouco e voltar para casa. Ir à praia só ia tornar tudo mais complicado e cansativo, principalmente para quem ia dirigindo, já que tivemos que pegar mais da metade do trecho no breu da noite. No mais, a viagem em si foi regada a muito rock and roll e muito papo agradável e interessante - em geral, cinema e música, mas rolaram outros papos também. Deu pra sentir sintonia com a turma. E isso é muito bom.

Segue link para algumas fotos que complementam o relato, que já está ficando bem grandinho.

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