segunda-feira, agosto 12, 2019

BLOQUEIO

Quentin Delaroche já havia dirigido um ótimo filme sobre o cenário político recente do Brasil, CAMOCIM (2017), que funcionou como uma espécie de espelho da sociedade brasileira. Em BLOQUEIO (2018), somos reapresentados a um caso que aconteceu no ano passado e que gerou uma forte repercussão, a paralisação nacional dos caminhoneiros. E tem acontecido tanta coisa de 2018 para cá que quase esquecemos este momento em que o Brasil quase parou. O filme também lembra que o comportamento de boa parte dos grevistas era muito próximo de um bolsonarismo, como se aquela ação, de modo não deliberado, tivesse ajudado a chocar o ovo da serpente.

Assinado por Delaroche e por Victória Álvarez, o filme tem uma estrutura bastante simples: os diretores, ao verem que aquela situação poderia ser interessante o suficiente para gerar um filme para cinema, se dirigiram até um dos locais de concentração. Como o documentário é o gênero cinematográfico que mais depende do acaso para seu sucesso, podemos dizer que um dos problemas de BLOQUEIO está na ausência de personagens marcantes.

O que o documentário mais enfatiza na luta dos caminhoneiros por melhores condições de trabalho é o que há de mais controverso em seu discurso: o socorro através de uma intervenção militar. E isso acaba se tornando ridículo quando eles são forçados a encerrar a greve devido à chegada da polícia do exército. O próprio diretor pergunta a um deles, que é mal tratado por um dos militares: mas não é a eles que vocês estão pedindo socorro?

Depois de discursos desse tipo e orações de grupos evangélicos, um sopro de sobriedade surge quando dois professores chegam para discutir com o grupo, tratando justamente da questão da intervenção militar como solução para todos os problemas do Brasil, para o fim da corrupção etc. Ordem e progresso, a bandeira do Brasil, o Hino Nacional, todos esses símbolos que acabaram sendo apropriados pela direita, são abraçados pelos grevistas. E há um sentimento misto na cena em que eles cantam o Hino Nacional. Que momento esse em que vivemos, hein.

+ TRÊS FILMES

O OLHO E A FACA

Quanta mudança de RIOCORRENTE (2013), tão cheio de alegorias visuais, para este novo trabalho de Paulo Sacramento, um pouco mais simples na forma, mas que aposta no tom de opressão. Opressão no trabalho, opressão na família do personagem de Rodrigo Lombardi. O diálogo com Caco Ciocler é perturbador; a cena de sexo com Débora Nascimento é animadora, as cenas com a família são incômodas, mas muito boas. Algo parece ter se perdido, mas ainda assim é um filme que merece ser visto com interesse. Ano: 2019.

MARCIA HAYDÉE – UMA VIDA PELA DANÇA

Eu, como leigo que sou em matéria de dança, desconhecia a existência da maior bailarina do Brasil (pelo que entendi no documentário). Bom ter um documentário exibido nos cinemas para nos apresentar a ela, por mais que o formato seja um tanto quadrado. Acredito que seja um filme mais apreciado pelos fãs de ballet e dança moderna também, já que ela foi uma que "contaminou" o ballet clássico com a modernidade. Direção: Daniela Kullman. Ano: 2018.

FEVEREIROS

Faltam-me identificação e sentimento de proximidade para gostar mais deste filme. Já que nem sou de família católica e nem do candomblé, acho que acabei vendo tudo com muito distanciamento. Ainda assim, com algum interesse, principalmente pelo fato de a personagem em questão ser Maria Bethânia e o filme também tratar de sua infância (dela e de Caetano Veloso, que me interessa mais). E tem o fato de a Bahia ser um mundo singular. Direção: Marcio Debellian. Ano: 2017.

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