Ultimamente vivemos um momento em que os sucessos de bilheteria em geral são bem recebidos tanto pelo público quanto pela crítica. Até pouco tempo atrás havia um abismo entre a preferência da audiência e a dos críticos. Esse tipo de abismo talvez retorne com OS PARÇAS (2017), que tem cara de ser um sucesso popular, herdeiro da tradição das antigas chanchadas, mas levando para São Paulo o humor cearense que conquistou a muitos com CINE HOLLIÚDY (2013), mas que perdeu um bocado da graça em O SHAOLIN DO SERTÃO (2016).
Coincidência ou não, Halder Gomes não destacou sua obra pregressa nas propagandas de sua nova comédia - temendo associações? - preferindo apostar na popularidade das imagens de Tom Cavalcante, Tirullipa e Whindersson Nunes, ou seja, um comediante já considerado veterano e dois da nova geração. Em se tratando dos dois novos, é bom dizer, nem se trata de um novo humor. É o mesmo humor um tanto rasteiro utilizado em shows de comédia para turista ver, mas que continua sendo eficaz e relaxante - embora talvez incômodo para certas audiências.
Aliás, em alguns momentos, é possível se sentir em um desses shows da comédia cearense, como na cena da piada sobre o menino cearense (de cabeça chata) e o menino paulista (de cabeça comprida). Nem é uma piada nova, inclusive, mas funciona bem naquele momento em que o filme já havia conquistado o espectador com seu humor próximo do ingênuo, mesmo falando de um grupo de picaretas.
Na trama, devido a uma confusão com o gerente de uma loja de eletrodomésticos, o vendedor Toinho (Tom Cavalcante) acaba correndo junto com um monte de gente, numa confusão que junta polícia, vendedores de rua, um rumor de que o rapa estaria chegando para tomar o material dos ambulantes, e, no meio disso tudo, os parceiros vigaristas Ray Van (Whindersson Nunes) e Pilôra (Tirullipa) se juntam a Romeu (Bruno de Luca) para trabalharem em uma firma de casamento fajuta, que teria como primeiro cliente a filha de um poderoso e perigoso mafioso local (Taumaturgo Ferreira). A filha é vivida pela bela Paloma Bernardi.
Um dos méritos de OS PARÇAS é saber conquistar o espectador que não tem preconceito com um tipo de humor mais vulgar a entrar na brincadeira. Ou seja, até mesmo as referências que o filme traz são extremamente populares, qualquer pessoa nascida no Brasil conhece, como é o caso de Fábio Jr. e É o Tchan, os artistas que supostamente estarão presentes no casamento do ano, como é assim considerado nos tabloides. Como se trata de uma comédia de confusões, há espaço para tudo, levando em consideração que os rapazes não têm grana para bancar um casamento chique e vão ter que improvisar.
E improvisar talvez seja um dos verbos que mais combinam com OS PARÇAS, já que o filme em si não parece ter sido bem pensado. Está mais para um encontro de amigos que topou fazer parte de um projeto descontraído e descompromissado, ainda que em alguns momentos seja possível lembrar de comédias americanas como A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO, como é o caso da cena do talco.
Também não é nenhuma novidade juntar quatro caras atrapalhados, sendo que um deles é o que se aproxima de um galã. Já se fazia isso em Os Trapalhões. Mas o bom é que a química do grupo funciona. Nenhum deles separado talvez rendesse um bom filme (o próprio Tom Cavalcante não teve um grande sucesso solo na televisão, como tiveram seus conterrâneos Renato Aragão e Chico Anysio), mas juntos conseguem fazer do novo trabalho de Halder uma diversão que pode até trazer de volta um público que esteve afastado do cinema brasileiro pelo mesmo motivo que deve afastar outro tipo de audiência: o preconceito.
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